O Papa proferiu a sua primeira homilia, na Missa que assinalou o final do Conclave, apelando ao anúncio da fé numa sociedade marcada pelo “”ateísmo prático” e a “perda do sentido da vida” para muitas pessoas.
“Ainda hoje, não faltam contextos nos quais Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre os não crentes, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático”, referiu o novo pontífice, na Capela Sistina, junto dos cardeais que participaram na eleição que decorreu entre quarta e quinta-feira.
“Este é o mundo que nos está confiado e no qual, como tantas vezes nos ensinou o Papa Francisco, somos chamados a testemunhar a alegria da fé em Jesus Salvador”, acrescentou, numa intervenção lida em italiano.
Leão XIV assumiu que, na sociedade contemporânea, muitos olham para a fé cristã como “uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes” e se preferem “outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”.
“São ambientes onde não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho, e onde quem acredita se vê ridicularizado, contrastado, desprezado, ou, quando muito, suportado e digno de pena”, observou.
O sucessor de Francisco e os seus eleitores celebraram a chamada missa ‘pro Ecclesia’ (pela Igreja), durante a qual foi ouvida a primeira homilia do pontificado.
Para o novo Papa, a Igreja Católica deve procurar chegar às pessoas “não tanto pela magnificência das suas estruturas ou pela grandiosidade dos seus edifícios”, mas pela “santidade dos seus membros”.
A intervenção, mais virada para o interior da Igreja, destacou a importância de conhecer a realidade, “com os seus limites e potencialidades, as suas interrogações e convicções”, convidando a refletir sobre a imagem que as pessoas têm de Jesus.
“Há um mundo que considera Jesus uma pessoa totalmente desprovida de importância, quando muito uma personagem curiosa, capaz de suscitar admiração com a sua maneira invulgar de falar e agir. Por isso, quando a sua presença se tornar incómoda, devido aos pedidos de honestidade e às exigências morais que invoca, este ‘mundo’ não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo”, referiu.
Leão XIV recordou ainda a atitude das “pessoas comuns” que acompanharam Cristo, como “um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas, como outros grandes profetas da história de Israel”.
A intervenção apresentou Jesus Cristo como “modelo de humanidade santa”, que todos pode imitar, juntamente com “a promessa de um destino eterno”.
Partindo da uma passagem do Evangelho segundo São Mateus, em que o apóstolo Pedro diz a Jesus “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”, Leão XIV falou do “dom de Deus e o caminho a percorrer para se deixar transformar, dimensões inseparáveis da salvação, confiadas à Igreja para que as anuncie a bem da humanidade”.
A intervenção identificou um “compromisso irrenunciável” para quem, na Igreja, exerce um ministério de autoridade: “Desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado, gastar-se até ao limite para que a ninguém falte a oportunidade de o conhecer e amar”.
“Que Deus me dê esta graça, hoje e sempre, com a ajuda da terna intercessão de Maria, Mãe da Igreja”, concluiu.
No início da homilia, Leão XIV quis deixar uma palavra em inglês, citando o Salmo que foi proclamado na Missa, em que se agradeceu a Deus pelas suas “maravilhas”.
“Não apenas comigo, mas com todos nós, meus irmãos cardeais. ao celebramos esta manhã, convido-vos a reconhecer as maravilhas que o Senhor fez, as bênçãos que o Senhor continua a derramar sobre todos nós”, disse.
Adaptado de Agência Ecclesia
Fotografia: Vatican News