O Papa publicou neste dia 24 de outubro a quarta encíclica do pontificado, ‘Dilexit nos’ (amou-nos), em que alerta para um mundo sem “coração”, preso ao consumo e à violência.
“Hoje tudo se compra e se paga, e parece que o próprio sentido da dignidade depende das coisas que se podem obter com o poder do dinheiro. Somos instigados a acumular, a consumir e a distrairmo-nos, aprisionados por um sistema degradante que não nos permite olhar para além das nossas necessidades imediatas e mesquinhas”, escreve Francisco, num texto dedicado à na devoção ao Coração de Jesus.
O Papa sublinha que o amor de Cristo está “fora desta engrenagem perversa”, abrindo lugar para o “amor gratuito” e contrariando a lógica da violência.
“Assistindo a sucessivas novas guerras, com a cumplicidade, a tolerância ou a indiferença de outros países, ou com simples lutas de poder em torno de interesses de parte, podemos pensar que a sociedade mundial está a perder o seu coração”, adverte.
“Ver as avós a chorar sem que isso se torne intolerável é sinal de um mundo sem coração”, acrescenta o Papa.
Além dos ensinamentos de vários pontífices, a encíclica cita Homero ou Dostoievski, reflexões de teólogos, místicos e filósofos, além de pensadores contemporâneos como Han Byung-Chul.
O nome da encíclica vem de uma passagem da carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8, 37), sobre o amor de Cristo.
Ao longo de 220 pontos, divididos em cinco capítulos, uma introdução e uma conclusão, Francisco passa em revista reflexões dos seus antecessores, do magistério católico e propostas de espiritualidade que remontam aos textos bíblicos.
O Papa precisa que “a devoção ao Coração de Cristo não é o culto a um órgão separado da pessoa de Jesus”.
“É ensinamento constante e definitivo da Igreja que a nossa adoração da sua pessoa é única, e abrange inseparavelmente tanto a sua natureza divina como a sua natureza humana”, indica.
O Papa reza para que o Coração de Jesus inspire os católicos na “capacidade de amar e servir” e os leve a “caminhar juntos em direção a um mundo justo, solidário e fraterno”.
‘Dilexit nos’ surge depois das encíclicas ‘Lumen fidei’ (2013), que recolhe reflexões sobre a fé iniciadas por Bento XVI; ‘Laudato si’ (2015), documento que propõe uma ecologia integral, abordando questões sociais e ligadas ao meio ambiente; e ‘Fratelli tutti’ (2020), que recolher as reflexões de Francisco sobre a fraternidade e a amizade social.