Reflexão Diocesana – Sínodo

Reflexão Diocesana do Relatório Síntese
da I sessão da Assembleia do Sínodo dos Bispos

COMO SER IGREJA SINODAL EM MISSÃO?

Esta foi a questão essencial que guiou a consulta realizada na nossa Diocese, a partir da ficha de trabalho e da leitura de alguns pontos do relatório síntese da primeira sessão da assembleia plenária do sínodo dos bispos, realizada em outubro de 2023. Propôs-se uma reflexão assente em dois conceitos fundamentais deste processo: sinodalidade e corresponsabilidade.

Nesta etapa do processo, a Diocese de Santarém, seguindo a recomendação da Conferência Episcopal Portuguesa, optou pela consulta de “pessoas e grupos que exprimissem uma variedade de experiências, competências, carismas e ministérios”. Assim, para a redação desta síntese que agora apresentamos, contámos com 17 contributos provenientes de 3 Vigararias, com o contributo dos Presbíteros, 6 Conselhos Pastorais Paroquiais, 1 Conselho Pastoral Inter-paroquial, 1 encontro de responsáveis paroquiais, 4 Movimentos Laicais presentes na Diocese, e o contributo dos Diáconos Permanentes da Diocese e da Caritas Diocesana.

Na procura de resposta a esta pergunta, a nossa síntese centrou-se em 3 pontos: Dificuldades,
desafios e avanços.

DIFICULDADES
– Uma dificuldade identificada em vários contributos diz respeito à organização tradicional da Igreja em que a hierarquia não promove a comunhão e a participação de todos nos processos deliberativos e no funcionamento das estruturas eclesiais, mantendo assim um esquema piramidal de organização, centrado no clero e em alguns leigos “clericalizados” que tem como consequência o desinvestimento na formação dos leigos, a indiferença e em alguns casos a iliteracia eclesial dos leigos face aos apelos à participação e colaboração na ação da Igreja e em concreto, neste processo sinodal «sempre foi assim: a comunidade cristã é dirigida pelo senhor padre e agora vai ser difícil mudar para um outro modelo, até porque não temos formação para isso». «Existe ainda um longo caminho a percorrer dado termos crescido numa Igreja hierarquizada, onde a opinião do clero e de alguns leigos era inquestionável e, em alguns casos, ainda continua a ser».
– Ausência de estruturas de comunhão e participação na vida comunitária ou o seu
funcionamento deficiente, como os conselhos pastorais.
– Um clima de marcação crítica e juízo entre os grupos e movimentos da comunidade que pode
conduzir ao afastamento das pessoas entre si, enfraquecendo a unidade na comunidade.
– A reduzida participação na nossa diocese nesta 2ªfase da consulta sinodal indica um alheamento de muitos cristãos, leigos, consagrados e ministros ordenados, quanto a este processo sinodal. Este “grande silêncio” precisa de ser refletido e trabalhado, pois «um grande universo de cristãos não terá tido oportunidade efetiva de se pronunciar e de participar».
– Os repetidos apelos e desafios a uma Igreja em saída, que saiba descentrar-se e acolher as periferias não têm encorajado práticas eclesiais nem moldado a vida das comunidades cristãs. A Caridade na vida das comunidades «tem sido o parente pobre considerando os 3 pilares da Igreja: Liturgia, Evangelização e Caridade» e estamos ainda longe de integrar os mais pobres e necessitados na participação ativa nos “processos de ajuda”, onde estes permanecem como meros agentes passivos. Não conseguimos evitar “o eles e o nós”; Ainda no domínio da Caridade e do Acolhimento, merecem particular destaque a realidade dos migrantes, os seus problemas sociais, económicos e culturais e as dificuldades de ajuda e resposta das comunidades cristãs a esses problemas.
– A linguagem litúrgica, nomeadamente na celebração da Eucaristia, parece revelar alguma ineficácia comunicacional e não gera atração, sobretudo entre os jovens e as crianças: «Porque é que os pais se queixam que os filhos não querem ir à Missa? Porque é que a missa não é sempre o lugar do encontro feliz com o Ressuscitado? Porque é que na postura, forma de estar, de comunicar, nem sempre sobressai a alegria da relação com Jesus vivo que caminha connosco?»

DESAFIOS
1 – Conversão espiritual
Nos textos preparatórios para o início do processo sinodal, e nos vários documentos que nas diferentes etapas têm sido elaborados e divulgados, emerge um desafio de fundo e prévio a qualquer preocupação de produzir textos acerca da sinodalidade na Igreja e na sua missão: a sinodalidade é uma experiência espiritual que nos pede a todos uma sincera e profunda conversão: «O processo de discernimento em relação à missão vai além das estruturas físicas: ele ocorre no âmago da comunidade, no encontro íntimo com Deus, através da oração fervorosa, do estudo profunda da Palavra e da entrega total da própria vida ao Espírito Santo». «A corresponsabilidade na missão implica dispor-se a sair do próprio amor, querer e interesse, abrindo-se à escuta orante do outro, sabendo que é neste encontro profundo de corações que poderemos escutar o que o Espírito Santo nos quer dizer a nós Igreja Diocesana».
Ora, esta conversão que desafia cada membro da Igreja e cada comunidade, necessita de
assentar numa estratégia ativa que confronte os egoísmos, comodismos, sacramentalismos e os autoritarismos, onde assenta uma Igreja autocentrada e de cariz clericalista que gera «comunidades amorfas», «cristãos de bancada» e «espetadores críticos» e não espaços de comunhão e vida, ao jeito de Jesus e verdadeiros discípulos missionários.
2 – Formação
Para uma Igreja sinodal em missão urge reconhecer a necessidade de formação de todos os membros da Igreja. “Caminhar juntos” requer a capacidade de utilizar uma linguagem comum enriquecida pelos diferentes idiomas que decorrem da diversidade de dons, carismas, vocações e ministérios.

Uma particular atenção deve ser dada à formação dos ministros ordenados e dos consagrados, incluindo nos planos formativos uma pedagogia sinodal de modo a evitar uma comunidade formativa clericalizada e clericalizante.
A formação a desenvolver e a implementar deve abranger as diferentes dimensões da vida da
Igreja (Liturgia, Caridade e Evangelização). Contudo, na vida das comunidades cristãs sobressai uma persistente lacuna na formação espiritual, levando-nos a concluir que na base de qualquer plano formativo ou catequético esta deva ser a preocupação essencial e primeira. No desafio da formação refere-se ainda a formação para a utilização dos meios digitais na vida das comunidades cristãs, pois o mundo digital, apesar das suas ambiguidades e riscos, constitui um espaço a valorizar na missão da Igreja.

3 – O exercício sinodal da autoridade
A Igreja está chamada e deve comprometer-se a exercer um tipo de autoridade que tenha como
única finalidade servir o verdadeiro bem das pessoas e ser sinal do único bem supremo que é Deus. A hierarquia eclesial, enquanto forma de organização da autoridade na Igreja, não pode
ser expressão de domínio, mas instrumento de comunhão. Neste sentido, importa fomentar um
exercício sinodal da autoridade onde a missão da Igreja é assumida por todos, num espírito de
verdadeira e efetiva corresponsabilidade, em que a participação «não deve ser entendida como
forma de promoção pessoal, mas antes um estar ao serviço, através dos seus dons». «A revalorização da vida e da dignidade batismal, como fonte primária de todos os ministérios
exige um novo modelo institucional que contrarie o modelo piramidal (…). A sinodalidade
oferece a estrutura interpretativa apropriada para pensar a renovação do ministério ordenado»
e a «clarificação de vocações e funções. Qual deve ser o papel do pároco hoje? Em que é que
deve delegar? Que podem os leigos aportar à vida das comunidades paroquiais?».
Fundamental para esta viragem sinodal no exercício da autoridade são os conselhos pastorais: «lugares privilegiados da escuta e participação e da valorização dos dons de cada um, em busca do bem de todos».
Ao mesmo tempo, observa-se que no exercício de responsabilidades dentro da comunidade ou dos movimentos requer-se uma liderança também ela sinodal, «unindo esforços e partilhando esforços, alegrias e fé».
Caminhar juntos em Igreja e na sua missão deve ainda levar-nos a considerar e avaliar a presença
das mulheres na Igreja e os atuais interditos a uma participação ministerial das mulheres na vida eclesial.

4 – A renovação da vida comunitária
Caminhar juntos em Igreja implica um olhar para o estilo de vida das nossas comunidades cristãs e encontrar estratégias para «romper com a itinerância do tempo presente que afasta as
pessoas a viver em comunidade. Importa promover o encontro, o apoio mútuo, a escuta do outro, aproximar as famílias da Igreja», pois «a diferença de dinâmicas pode conduzir a uma desintegração comunitária» e a um anonimato crescente na comunidade.

O estilo sinodal de ser Igreja apresenta-se, pois, como o método eclesial por excelência a partir do qual se projeta a participação, a comunhão e a missão da Igreja. Neste sentido, «sugerimos que a próxima Assembleia Diocesana se faça em clima sinodal, que nos possamos sentar em mesas redondas, que exercitemos a escuta orante, que partilhemos tempos de silêncio e oração, que cada um vá tomando consciência dos toques do Espírito (…) que construamos em conjunto, nós e o Espírito Santo, os caminhos a seguir». Um outro desafio decorrente da vida das comunidades cristãs é a necessidade de renovação da linguagem da fé e da linguagem litúrgica de modo a alcançar «uma transmissão eficaz da mensagem e vida de Jesus, não temendo a inovação e a criatividade». No âmbito da Caridade, referiu-se o bom acolhimento da proposta de um novo ministério de escuta e acompanhamento e também o apelo a progredirmos como Igreja na resposta aos problemas dos migrantes, sobretudo «no combate ao tráfico de seres humanos e a todas as formas de exploração que se verificam ao nível das redes de tráfico». Um outro desafio que decorre da realidade dos migrantes é fomentar o diálogo inter-religioso e intercultural entre os cristãos, as comunidades e os diversos grupos e etnias presentes no espaço da nossa Igreja Diocesana.

AVANÇOS
O processo sinodal despertou na consciência dos cristãos, leigos e consagrados, a urgência de caminhar juntos, sem excluir ninguém. «Cada membro da comunidade tem um papel importante a desempenhar e todos são chamados a contribuir com os seus dons e talentos para o bem comum. A sinodalidade não é apenas uma forma de organização eclesiástica, mas uma atitude de corresponsabilidade e comunhão que nos permite ser uma Igreja viva e atuante. É um convite para superar divisões e diferenças, buscando a unidade e o testemunho do amor de Cristo no mundo».

Os encontros sinodais, no âmbito deste processo, constituíram verdadeiros e fecundos momentos de escuta, partilha, silêncio e oração: ao reunirmo-nos estamos já a gerar, como primícias, uma Igreja, “corpo sinodal”, empenhada e entusiasmada na missão, cada vez mais compreendida como tarefa da responsabilidade de todos: também aqui “todos, todos, todos…” Registe-se ainda que os encontros sinodais trouxeram também a consciência de que a sinodalidade já está presente e molda muitos aspetos da vida da Igreja, das comunidades cristãs e dos movimentos. A título de exemplo, um movimento eclesial refere o método Ver, Julgar e Agir e o processo de revisão de vida, na perspetiva da participação, formação e responsabilidade partilhada» onde todos se escutam e «ajudam os que tenham maiores dificuldades a fazer a sua caminhada». Também aqui se revelam as sementes de sinodalidade já presentes no seio da Igreja e como têm produzido, ao longos de inúmeras gerações de cristãos, tantos frutos da vida em abundância que Jesus nos prometeu.

Santarém, 23 de Março 2024

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