O Bispo de Santarém presidiu na Sé de Santarém no passado dia de quarta-feira de Cinzas a 2 de março, à celebração eucarística com que deu início ao tempo da Quaresma.
D. José Traquina proferiu a seguinte homilia:
Irmãos e irmãs
Neste dia damos início ao santo Tempo da Quaresma que nos levará até à celebração do Tríduo Pascal. Começa com uma grande comunhão de preocupação. O Papa Francisco pediu-nos que este dia fosse especialmente vivido em jejum e oração tendo presente o sofrimento do povo ucraniano. Em comunhão com o Papa, que esta celebração seja, pois, expressão da nossa comunhão e preocupação com os ucranianos, no sofrimento que estão a viver.
O apelo da Palavra de Deus, como hoje escutámos no Evangelho (cf. Mt 6,1-6.16-18), é sempre um apelo a uma melhor perfeição na vivência da vida. Individual e comunitária. As guerras são derrotas no processo de desenvolvimento da civilização mundial. A pessoa humana têm a capacidade de amar e dialogar sobre todos os problemas, reconhecendo que entre todos os seres humanos há uma existência e uma verdade comuns que é necessário considerar para conseguir o bem comum para todos.
A paz é obra da justiça. É absolutamente necessário para sua edificação, a vontade firme de respeitar a dignidade dos outros, pessoas e povos, e promover a fraternidade (cf. GS 78).
O profeta Joel (Joel 2,12-18), em nome de Deus,propõe-nos o caminho de conversão: “convertei-vos a Mim de todo o coração”. Isto é, Deus está à espera da conversão humana para que seja possível a paz. Uma vez aceite, somos exortados a viver e a testemunhar a fraternidade e a experiência da paz. O contrário disto é viver no dinamismo do poder do mal, é a afirmação de superioridade e de domínio, é a guerra que destrói a vida e o mundo por dificuldade em acreditar e confiar na capacidade do diálogo e das conversações para se chegar ao bem comum de todos os povos.
O Papa Francisco propõe a ‘cultura do encontro’ e a “amizade social”, para construir uma paz que seja boa para todos. “É sempre necessário renunciar a alguma coisa, (…) mas se o fizermos pensando no bem de todos, poderemos chegar à experiência de relativizar as diferenças para lutarmos juntos pelo bem comum” (CV 169).
São Paulo (2 Cor 5,20 – 6,2) , na 2ª Leitura, exorta-nos à reconciliação e a não recebermos em vão a graça de Deus.
Irmãos e irmãs, a mensagem cristã é de amor, de justiça e de paz, mas a paz começa no mais íntimo de cada pessoa. Assim, um coração de paz é um coração que se abre aos outros. É esse o testemunho e o mandamento que recebemos, éessa paz e amor de Jesus que somos convidados a viver e a promover, como experiência de um Reino que começa dentro de cada pessoa. Agora,em tempo de guerra e a iniciar o tempo da Quaresma, não podemos deixar de rezar, vigiar pelos sentimentos que nos habitam, anunciar a possibilidade da paz e promover o amor solidário em apoio a quem sofre por falta de paz.
Nossa Senhora, nos acompanhe na súplica e edificação da paz.
+ José Traquina