Fiquei mais próximo do Daniel Henriques na comunidade do Seminário de Almada, em 1984, quando lá assumi a missão como prefeito e ele era aluno do 2º ano do Curso de Teologia. Em 1990 é ordenado sacerdote e também nomeado como prefeito do Seminário de Almada. Estivemos em missão semelhante na mesma comunidade, durante dois anos. Foi tempo para aprofundar a nossa vocação sacerdotal em contexto da missão do Seminário e a responsabilidade que nos cabia de ajudarmos os rapazes seminaristas a fazer o seu discernimento vocacional.

A partir de setembro de 1992 fiquei mais distante do Padre Daniel, por nova missão que recebi em comunidades da zona Oeste do Patriarcado. A distância não apagou a consideração mútua e a amizade cristã e sacerdotal.

Desde o seu primeiro ano no Seminário de Almada, o Padre Daniel Henriques manifestou um empenho determinado e discreto pela missão que lhe era confiada. Inteligente e persistente, tinha um coração grande e uma vontade forte para responder aos desafios pastorais que tinha pela frente. E foi assim revelando-se nas várias Comunidades paroquiais por onde passou, deixando o rasto de bom pastor dedicado e atencioso.

Revelou-se também com especial sensibilidade à dimensão missionária da Igreja em países distantes, promovendo iniciativas e visitas com outros missionários.

Voltámos a ter mais proximidade quando na minha missão de Bispo auxiliar de Lisboa acompanhava a zona pastoral do Oeste (2014-2017) e nessa altura o Padre Daniel Henriques era pároco da grande Paróquia de Torres Vedras. A forma como ele desempenhava a sua missão pastoral teve o apreço de muitas pessoas e de colegas sacerdotes, alguns a adivinhar o que viria a acontecer: o Padre Daniel Henriques reúne as condições que são exigidas para ser um bom Bispo da Igreja e assim veio a acontecer.

Recebendo a ordenação episcopal a 25 de novembro de 2018, o novo Bispo auxiliar de Lisboa, D. Daniel Henriques, iria suceder-me na missão de acompanhamento da zona pastoral do Oeste do Patriarcado de Lisboa. Essa missão levou-nos a várias conversas de avaliação e partilha sobre aquela promissora realidade pastoral.

Chegado à Conferência Episcopal, convidei o Dom Daniel Henriques para pertencer à Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana. Aceitou e ficou com a missão de acompanhamento das pastorais do mar e das migrações, especialmente das comunidades portuguesas no estrangeiro. Fez um bom trabalho no acompanhamento dos serviços das Migrações na sede da CEP e deslocou-se ao estrangeiro para presidir a celebrações com Crismas em comunidades portuguesas na Inglaterra, Suíça e Alemanha.

No passado dia 27 de outubro, visitei o D. Daniel Henriques, recém-chegado aos cuidados paliativos do Hospital da Luz. Sentado ao lado da cama, com voz baixa,mas clara, disse-me que estava a receber muitas mensagens no telemóvel, mas lhe era difícil responder. Falou das suas limitações e impossibilidade de assumir a missão que tinha na pastoral das migrações e adiantou-me a sua interpretação da realidade pastoral das comunidades portuguesas no estrangeiro. Sem exagero, e com preocupação minha pelo seu cansaço, D. Daniel Henriques falou mais de meia hora sobre preocupações pastorais com as migrações. Acabámos a visita a falar da vida como uma entrega e assim nos despedimos.

O comunicado do Senhor Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, no passado dia 2 de novembro, acerca do estado de saúde do Bispo auxiliar D. Daniel Henriques, surpreendeu-me; era a informação de que o seu estado de saúde se tinha agravado.

Ficamos com o D. Daniel Henriques no coração de Deus e no nosso. Perdemos um bom e promissor pastor e Bispo, mas não se perde a intensidade da sua vida toda entregue à causa da missão de Cristo Bom Pastor, na Igreja e no mundo.

A seriedade, inteligência, humildade, santidade e sentido da missão da Igreja de D. Daniel Henriques é para nós um exemplo e um estímulo para a dedicação pastoral. Em comunhão com muitas pessoas, especialmente com os seus familiares, estou grato a Deus por me ter dado a conhecer este seu servo e amigo.

Distantes, mas não longe, continuamos em comunhão.

+ José Traquina

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