Celebração do 48. Aniversário da Criação da Diocese de Santarém e do 38. Aniversário da Dedicação da Igreja

Caros Irmãos e irmãs

estimados Ordinandos

 Como escutámos no Evangelho (Mt 13,1-23), Jesus revela o seu Reino através de parábolas e linguagem simples mas a partir da sua experiência de situações onde não foi bem recebido, por dificuldades diversas no acolhimento da sua Palavra e dos desafios do seu ensino. Usando os termos da parábola do semeador, o problema não é a qualidade da semente, a palavra, é o terreno onde ela é semeada: terreno duro, terreno pedregoso, terreno com espinhos e também há o terreno bom.

 O Evangelho é então a semente, a força de Deus, a Palavra a atuar no mundo a começar no coração, no mais íntimo de cada pessoa. Mas Jesus considera que à sua frente está a realizar-se o que disse o profeta Isaías: O coração deste povo tornou-se duro. Muito facilmente identificamos situações em que falta a bondade e se afirma o coração endurecido. E não é por falta de palavras. Todos os dias, milhões de semeadores publicam palavras nas redes sociais e nos imensos meios de comunicação. Porém, num tempo com tanta facilidade de semear palavras, surgem sinais preocupantes de egoísmo, indiferença e violência entre pessoas. Os meios de comunicação que podem servir para aproximar as pessoas e edificar a paz, são manipuláveis como instrumentos de afirmação de poder e de exploração.

Na parábola, Jesus descodifica os terrenos improdutivos com pessoas que não alcançam a mensagem, pessoas inconstantes e pessoas muito ocupadas com os seus bens pessoais. Mas, não caiamos no pessimismo diabólico. Não podemos desistir, existem bons terrenos e temos o mandato de anunciar o Evangelho, consagrar e ensinar a viver como cristãos na edificação do Reino de justiça e de paz.

 Quanto ao semeador da parábola, é generoso no lançamento das sementes, muitas caiem fora dos limites da propriedade. Esta abundância de sementes lançadas poderá indicar que a pregação é para todos, embora o efeito não seja igual em todos os que ouvem. O semeador da parábola semeia com esperança e não contabiliza o prejuízo das sementes que caíram em terra sem condições. É melhor alegrarmo-nos pelos frutos das sementes caídas em terreno bom do que gastar o tempo a lamentarmo-nos das sementes que não deram fruto porque caíram em terreno sem condições de produzir.

 Nesta dimensão profética, o que Cristo, bom semeador, quer da sua Igreja, povo de Deus, é que sejamos bom terreno e bons semeadores, embora com responsabilidades diferenciadas. Ninguém será bom semeador da palavra, sem antes ser um bom terreno acolhedor da mesma semente.

Aos pais pede-se que sejam bons semeadores da palavra junto dos seus filhos. Com amor e sem medo. São semeadores os professores e sublinho a importância dos professores de Educação Moral e Religiosa Católica na missão de ajudar crescer em verdadeiro caminho de liberdade. Os Catequistas, na nossa Diocese são cerca de 1200 (mil duzentos), são semeadores pela missão na iniciação da fé e acompanhamento no itinerário catequético. São semeadores os Diáconos, anunciadores do Evangelho e responsáveis por o traduzir em alimento e iluminação da vida. E são especiais semeadores os sacerdotes, presbíteros e bispos por exercerem ministérios da tradição da Igreja com a autoridade dada por Cristo aos apóstolos.

 Caros Ordinandos, Dionísio e Magney, é bom reconhecer que não somos donos da Palavra mas possuídos por Ela e seus servidores. A Palavra veio ao nosso encontro, atingiu-nos e acompanhou-nos ao longo de um percurso de crescimento, iluminação e compromisso. É decisivo para a solidez vocacional a certeza de que o Senhor nos olhou individualmente e nos escolheu apesar da nossa fragilidade. Não fostes vós que me escolhestes, fui Eu que vos escolhi(Jo 15,16). É bom guardar esta Palavra!

Assim, possuído pela Palavra e ao seu serviço, pela dedicação e testemunho de vida, um presbítero torna-se motivo de alegria para o povo de Deus que manifesta gratidão quando os pastores ensinam a crescer na fé e ajudam todos a sentirem-se membros da Igreja e corresponsáveis na missão.

 O padre é sacerdote e tem também a missão de santificar. Esta missão supõe, necessariamente, que o padre sacerdote é um bom terreno onde as sementes já há muito dão fruto mas, como bem sabem os agricultores, os terrenos para produzirem bem precisam de ser limpos, retirando o que lá não deve estar e assegurando a água e os nutrientes necessários. O cuidado da vida espiritual de um cristão e também de um sacerdote, supõe esse cuidado com o terreno do seu coração. Caso contrário, um bom terreno pode tornar-se num matagal sem graça. A missão de santificar passa pela identificação e pertença a Cristo. Porque pertencemos ao Senhor e somos consagrados para o tornar presente, temos uma maior responsabilidade de cuidar da vida, diariamente entregue a Deus e à Igreja, na celebração da Eucaristia, estudo, oração, trabalho de preparação das sementeiras, na atenção aos colaboradores próximos que trabalham na mesma seara e na dedicação mais larga a pessoas que parecem afastadas mas desejam a proximidade e uma palavra. O padre é uma pessoa pública, supõe-se que segue uma escala de valores de acordo com a sua identidade e missão e que se preocupa com a qualidade dos relacionamentos que estabelece.

 Em comunhão com o seu bispo e o presbitério, o padre é também Pastor. Ao assumir as responsabilidades pastorais que lhe são atribuídas, deve contar com a colaboração dos cristãos leigos e das Irmãs de vida consagrada, quando existem, não apenas para executar atividades mas para as pensar, projetar e promover.  

 A dimensão sinodal da Igreja requer cuidados na forma de exercer a presidência e a liderança. É necessário rezar e saber escutar; escutarmo-nos uns aos outros acerca dos processos e programas a desenvolver. O pastor trabalha bem na medida em que reza e escuta bem. Além disso, existem responsabilidade pastorais que podem ser assumidas por cristãos leigos. É oportuno lembrar o testemunhos dos jovens e adultos na organização e acompanhamentos dos símbolos da JMJ, na nossa Diocese, no passado mês de junho. Foi um testemunho promissor.

Caros ordinandos, ainda diáconos, Dionísio e Magney, imagino que na vossa preparação última para a Ordenação de presbíteros houve tempo para rever o filme da vossa vida e lembrar as pessoas que semearam boas sementes no terreno do vosso coração. Essas pessoas foram e são referência do dom que em vós cresceu até chegar a este momento. Ao receber a Ordenação de presbíteros, o Espírito Santo habilita-vos a ser  dom de Deus para a Igreja e para o mundo a serdes representantes de Cristo junto das famílias, crianças, jovens, pessoas idosas, doentes e também um bem para a sociedade. Estou certo que da vossa fidelidade vai depender a alegria e o bem de muitas pessoas.

Contai sempre com a intercessão e o afeto maternal da Virgem Maria, Senhora da Imaculada Conceição, Padroeira da nossa Diocese e desta Catedral, Mãe do Senhor Jesus e dos seus discípulos.

+ José Traquina

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