Irmãos e irmãs,
Sintamo-nos unidos aos cristãos das muitas comunidades da Igreja que nesta Noite santa se reúnem para celebrar o Natal do Senhor, a vinda de Deus ao mundo no Menino nascido de Maria, em Belém.
Podemos imaginar os cristãos que se reúnem em outras catedrais e em segurança mas tambémaqueles cristãos que, por força da guerra, das perseguições ou proibições e em minoria, estão impossibilitados de celebrar jubilosamente esta Boa Festa de Natal. Imaginemos as limitadas condições dos cristãos palestinianos de Belém, na terra onde Jesus nasceu. Ou as famílias em sofrimento com familiares mobilizados e envolvidos em palcos de guerra. Onde as ditaduras dominam, não há respeito pelas pessoas.
Como ouvimos na primeira leitura, é para uma sociedade com problemas que se dirige o Profeta Isaías (9, 1-6): “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começo a brilhar”.É a esperança profética: “Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto de chamas. Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado”.
Aqui estamos a dar lugar à esperança, nesta santa Noite, para celebramos o Nascimento do nosso Salvador, nas condições e nas circunstâncias históricas que São Lucas informa no seuEvangelho (2,1-14).
Em Belém, palavra que significa “casa do pão”, é o local onde nascera o Filho de Deus, num estábulo de animais por não haver lugar na hospedaria. Belém era uma referência de promessa onde havia de nascer o Messias, e ficou confirmada como referência da renovação da humanidade pelo nascimento do Menino quenasceu para dar a Vida. Em Belém, “casa do pão”, nasceu Aquele que dá a vida como alimento e havia de dizer de si mesmo: “Eu sou o Pão da vida” (Jo 6,48). Jesus viria a convidar-nos a alimentarmo-nos d’Ele, da sua Palavra e da sua entrega celebrada na Eucaristia, e também a sermos nós a solução do alimento de vida de uns para os outros; “dai-lhes vós mesmos de comer”(Mt 14,16), dirá Jesus aos seus discípulos, ponde em prática a Palavra, o respeito de uns pelos outros, promovendo a patilha de bens num relacionamento fraterno e pacífico. Em síntese: “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” (Mt13.34).
Irmãos e irmãs, pelo Natal muitas pessoas desdobram-se em promover sinais e ações que caraterizam a beleza cultural deste tempo de Natal: refeições, visitas e ofertas de lembranças. Tudo isso deve traduzir uma verdade mais íntima: em Jesus e com Jesus, somos chamados a ser alimento de vida uns para os outros, animarmos a vida com Fé, com Amor e com Esperança. Também os milhões de mensagens de Natal, agora mais facilmente enviadas, devem corresponder aos melhores sentimentos da pessoa humana. Sendo sinceras, são expressão de quem deseja a edificação do bem comum.
Na origem de todas as manifestações está um tesouro invisível. No Presépio, o mais importante não são as muitas coisas que o Menino tem: importante é o Amor, humano e divino, que está presente naquelas pessoas: Maria, José e o Menino.
Este Jesus, Pão da vida em alegria e paz, é Aquele que se torna realmente presente no altar da Eucaristia. De certo modo, a comunidade cristã deve ser hoje outra Belém onde Jesus nasce para o mundo, para todos.
Como cantámos no Salmo Responsorial (95), estamos em Festa, nasceu o nosso Salvador. Por isso nos alegramos e convidamos todos a alegrarem-se.
Conforme a 2ª Leitura, da Carta de São Paulo a Tito (2,11-14), “Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens”.
A graça de Deus nos ensina e ajuda para renunciarmos ao que é mundano e vivermos com temperança, justiça e piedade.
A concluir; interiormente Maria e José também batem à nossa porta como bateram à porta da hospedaria, para saber se há espaço no nosso coração onde Jesus possa nascer. Deus revelou-se pobre e dependente da disponibilidade humana. Disponibilidade e acolhimento que também Jesusviria a manifestar: “vinde a mim vós que andaiscansados e oprimidos e Eu vos aliviarei” (Mt11,28). Ser acolhido e ser acolhedor, é isso o Natal e inspiração para continuar a missão de Jesus.
Irmãos e irmãs, a nossa natureza humana, em Cristo, foi unida à natureza divina. Não estamos condenados ao mal. Celebremos com alegria e esperança o Natal do nosso Salvador.
+ José Traquina