Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria

Catedral de Santarém, 08-12-2022

(com Admissão às Ordens sacras do seminarista António Francisco Sá Nogueira)

Celebramos a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria Dedicação desta catedral e da Diocese de Santarém e Padroeira Principal de Portugal (D. João IV – 1646)

Como sabemos a Virgem Maria é referência obrigatória do Advento, tempo que antecede o Natal, porém, não é por isso que esta Solenidade mariana é celebrada a 8 de dezembro. É para respeitar no calendário litúrgico o ritmo natural da gravidez. Assim, nove meses depois, a 8 de setembro, celebrar-se-á o Nascimento da Virgem Maria

Nesta solenidade celebramos a digna morada que Deus preparou para seu Filho vir ao mundo, por mérito antecipado do mistério pascal de Cristo. Assinalamos também a origem da Igreja, que se revê na Virgem Maria.

Nesta celebração podemos contemplar o Plano de Deus a realizar-se com fidelidade na pessoa da Virgem Maria – Mãe Jesus e nossa Mãe espiritual. Foi de tal modo perfeita a resposta de Maria ao plano de Deus que o povo cristão concluiu inspiradamente que Ela viveu sempre em santidade desde o primeiro momento de existência no ventre materno.

O Plano de Deus tem um objetivo: o bem e a salvação da humanidade. É a este Plano que a Virgem Maria se mostra disponível para colaborar segundo o desígnio de Deus.

Vemos como é diferente a resposta de Eva (1ª Leitura do livro do Génesis) e de Maria (Evangelho)! Eva não escuta a vontade de Deus e deixa-se influenciar pelo força do mal; Maria, escuta e confia em Deus a sua vida; é a mulher nova fiel ao plano de Deus. Não foi concebida para se tornar uma serva escrava do pecado e do mal; omistério da sua vida inscreve-se no cumprimento da promessa de Deus em vir ao mundo. A sua vida e missão está intimamente ligada à missão de Cristo, não só porque foi a sua Mãe, mas porque escutou a Palavra de Deus e a pôs em prática.

Não é possível falar do ‘pecado original’ como um dado provado da ciência histórica da desobediência de Adão e Eva. Mas há uma pergunta de difícil resposta? Onde está a origem do mal? Porque hão de os homens odiar-se e promover a morte aos mais indefesos e pobres? Porque fazem os homens a guerra gastando o dinheiro que dava para matar a fome aos milhões de pobres do mundo. Porque se ofende a dignidade das crianças? O ‘pecado original’ não é uma afirmação antiga para questões do passado, infelizmente está presente na vida do mundo atual com pessoas centradas em si, cheias de complexos de superioridade e com planos injustos para submeter os outros ao seu poder pessoal. O pecado original continua a manifestar-se no mal promovido por pessoas que, sem razoabilidade nem bondade, usam a sua inteligência para matar e destruir.  

Outro aspeto do poder que mata é a cultura acerca do valor da pessoa humana. Criam-se modelos da pessoa humana e desvalorizam-se pessoas porque são idosas, doentes, deficientes, estrangeiras, ou simplesmente porque têm outra cor. Gera-se a cultura do valor da pessoa pelo êxito da sua carreira e pela utilidade da sua profissão. Não havendo isso, parece dispensável. Não admira, portanto,que tantos estejam de acordo com uma lei que defenda a eutanásia.

O que parece esconder-se no processo em curso é adesvalorização da pessoa doente e isso é mau, é perigoso e preocupante. A pessoa humana tem sempre dignidade, seja qual for o seu estado de saúde, mas sabemos como facilmente na doença uma pessoa experimenta a fragilidade e pode desanimar e perder o sentido da vida. A uma pessoa doente é necessário dizer: “tu tens valor para mim e para muitas outras pessoas; mereces todo o apoio”. É preciso cuidar e acompanhar de modo que a pessoa doente se sinta amada e valorizada. Além disso, importa valorizar e direcionar a vida como uma doação de amor;neste registo muitas pessoas descobriram que Deus estava ao seu lado no meio do sofrimento.  

Com Maria e São José, Jesus cresceu numa atenção de proximidade c valorização de pessoas pobres e doentes. Não admira, portanto, que tenha dedicado tanta atenção aos doentes e tenha deixado aos seus discípulos essa atenção como um mandato para tornar presente o seu Reino.

A Virgem Maria, a cheia de graça, reflete a beleza da nova humanidade: a harmonia entre natureza humana e graça divina, verdadeiramente uma maravilha do Criador. Para aIgreja, Nossa Senhora, a Mãe Imaculada, é referência da vida humana em santidade, traduzida numa vida modesta, em alegria e amor generoso e fiel à vontade de Deus.

São Paulo (2ª Leitura) aos Efésios, ensina que os cristãos têm consigo um grande desígnio, estão inscritos no mistério do plano de Deus. Em Cristo e por Cristo, são consagrados como Filhos e herdeiros dos seus dons. Isto é, Deus faz-nos participantes da graça e dons espirituais que estavam em Maria desde a sua Imaculada Conceição. É a participação nestes dons que nos permite assumir a vida como uma missão dada por Deus.

O SIM de Nossa Senhora deve acontecer agora na Igreja!O Sim da Igreja, o nosso Sim de cristãos, supõe que nos assumimos como mediadores para que Deus chegue onde quer chegar; para que nasça onde quer nascer. Deus não desistiu do mundo, continua a contar com os discípulos de seu Filho como mediadores para tornar presente o seu Reino de justiça e de paz.

António Francisco, desejo e espero que na tua caminhada vocacional no Seminário e na Diocese, esta etapa de Admissão às ordens sacras corresponda ao ‘Sim’ de Nossa Senhora. A resposta dela aconteceu em humildade e simplicidade, em confiança e coragem. Que a tua disponibilidade em caminho de configuração, aconteça com a mesma disponibilidade e resposta da Virgem Mãe: “Faça-se em mim, segundo a tua Palavra”.

+ José Traquina

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