Solenidade da Imaculada Conceição
Santarém, 08 de Dezembro de 2023
Irmãos e irmãs
Esta solenidade litúrgica em que louvamos a Deus pela Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, tem especial relevo na Igreja em Portugal, por razões históricas, por ser o título pelo qual Nossa Senhora for proclamada Rainha de Portugal (1646) e também por ser a padroeira de muitas comunidades paroquiais e diocesanas, como acontece com a Diocese de Santarém.
Estamos no tempo do Advento. Porém, esta solenidade em nada prejudica a nossa caminhada e preparação da celebração do Natal do Senhor, pois temos como grande referência deste tempo, Maria, a Virgem Santa e imaculada, a quem o Anjo anunciou a vontade de Deus: a sua eleição para ser a Mãe do Messias prometido (cf. Lc 1,26-38).
Maria, era uma jovem com projetos e compromissos assumidos, no ambiente normal da vida da população de Nazaré da Galileia. A grandeza do anúncio do Anjo leva-a a fazer perguntas; a resposta é um apelo à fé e ao acolhimento do Espírito Santo. “Não temas”, “O Espírito Santo virá sobre ti”. E a jovem Maria diz um SIM a Deus que havia de ecoar pelos tempos novos marcados pela presença do seu Filho Jesus e do seu Reino.
Foi um anúncio discreto e surpreendente, como são discretos e surpreendentes muitos chamamentos à vida consagrada e missionária. Revela uma novidade, é o primeiro momento referenciado na Sagrada Escritura em que surge claramente a afirmação de Deus como Trindade: “Deus está contigo”, “o Espírito Santo virá sobre ti”, “darás à luz um Filho”. Deus encantou-se da sua criatura e dá início a uma nova criação. A Igreja revê-se na disponibilidade e coragem da Virgem Mãe, e proclama a sua Imaculada Conceição. Igualmente a sua fé, confiança e humildade, são referência para todos os cristãos, crianças, jovens e adultos, para toda a Igreja.
O SIM de Maria é uma decisão de fé. O anúncio do Anjo traduz o projeto de Deus e a liberdade e fé de Maria, o diálogo esclarecedor pede uma resposta confiante e Maria assumiu a sua decisão com um SIM: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Maria confiou e tomou mais decisões decorrentes da primeira.
Sem deixar de salientar a santidade e todas as suas virtudes, a Virgem Maria ficou conhecida pela sua decisão confiante. É oportuno salientar a necessidade e a força de uma decisão, qualquer pessoa é conhecida por aquilo em que acredita e pelas decisões que toma. Nós somos aquilo que decidimos, por isso, é bom evocar o Espírito Santo não para nos substituir mas para nos inspirar e ajudar a ver o que é melhor e mais justo nas decisões de cada dia.
Maria é a mulher nova, a nova Eva, por contraste com a Eva infiél que nos refere o Livro do Génesis (3,9-15.20). A jovem Maria, este ano tantas vezes referenciada na preparação da Jornada Mundial da Juventude, revelou-se disponível e “partiu apressadamente para a montanha” (Lc1,39) para encontrar-se com a prima Isabel.
Eva, fechou-se na sua tentação e abandonou o projeto de Deus. Maria, teve liberdade interior e acolhimento para escutar Deus que já tinha espaço no seu coração. Por isso, confiante e decididamente,teve coragem para se levantar e caminhar. A beleza da Imaculada Conceição de Maria reflete-se na santidade da sua atitude, a capacidade de escutar, a coragem da fé, o sentido dos outros e a decisão coerente.
Ao longo dos séculos, a Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, inspirou artistas de muitas artes a produzirem trabalhos que refletissem a sua beleza. É isso que encontramos nesta igreja catedral;a beleza do património histórico e artístico que encontramos ajuda-nos a contemplar a beleza da Mulher nova escolhida por Deus. A beleza da Virgem Santa Maria reflete-se na igreja catedral, mas deve refletir-se também na beleza da Igreja–Povo de Deus. Esta catedral pertence à Senhora da Conceição, e Portugal inteiro pertence-lhe como “Terras de Santa Maria”, e nós também lhe pertencemos como filhos, consagrados por Cristo na cruz.
Irmãos e irmãs, num tempo de tantas preocupações com a paz no mundo, as guerras, asinjustiças, o desrespeito pelas pessoas, os abusos, a violência doméstica, a exploração humana, a escravatura, os migrantes desprotegidos, os refugiados, os milhões de pobres no mundo, as dificuldades económicas na vida das famílias. Portudo isto, ressoa forte a pergunta da primeira Leitura do Livro do Génesis (Gn 3,9-15.20): “Adão, onde estás?”. É a pergunta permanente: homem do século XXI onde estás? Quais são os teus medos? Porque continuas a ocupar o lugar de Deus e não reconheces aqueles que são os teus semelhantes?
Já vivemos no tempo novo do Espírito com a possibilidade de tudo ser renovado. Assim, na sequência da vocação e missão de Maria, São Paulo na segunda Leitura, (Efésios, 1,3-6.11-12) lembra-nos que Deus “do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu (…), para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença” (Ef1,3-4).
Porque estamos aqui, “em Cristo constituídos herdeiros e predestinados”, como aconteceu com a nossa Padroeira, assumamo-nos como um dom, um desígnio de Deus neste tempo que nos é dado viver. Na verdade, esta solenidade acentua a beleza da graça divina na Virgem Maria e também em nós. Estamos envolvidos no mesmo plano de Deus que se projeta na renovação e salvação da humanidade.
Avançamos para a celebração do Natal mas não seja apenas ao ritmo do tempo e da tradição das festas. Avancemos com um SIM a Deus. Continuemos a rezar pela paz no mundo, como Nossa Senhora aconselhou os Santos Pastorinhos de Fátima, e promovamos boas decisões de generosidade para tornar presente no mundo a alegria do bem e do amor de Deus.
+ José Traquina