Santarém, 07-04-2024

Homilia da Missa no Santuário do Santíssimo Milagre

Irmãos e irmãs

Aqui estamos nesta igreja-santuário do Santíssimo Milagre a celebrar a eucaristia do II Domingo da Páscoa, também conhecido peloDomingo da Misericórdia. Como acabámos de escutar, o Evangelho valoriza a promoção do perdão. Promover o perdão porque existem ofensas. Qual é o problema de uma ofensa?

  O problema de uma ofensa é o seu efeito: altera tudo. Já nada fica como era antes da ofensa; a vida em comunhão de sentimentos e objetivos fica atingida, experimentam-se a deceção e a tristeza e o efeito pode chegar ao afastamento total ou a situações de descontrolo.

Nesta altura, em alta escala, as ofensas são constantes. A situação de ódio e vingança expresso em conflitos e guerra em vários países, preocupa o mundo todo. Porque razão os homens querem marcar a história com o aumento do seu poder dominador sobre outras pessoas e povos inteiros? Porque desvalorizam o desenvolvimento integral da humanidade?

Com esperança, alegremo-nos em Cristo Ressuscitado! Cristo é a nossa esperança! Deus não desistiu!

 Estamos no 2º Domingo da Páscoa, ‘Domingo da Misericórdia’ como o designou o Santo Papa João Paulo II em virtude da religiosa polaca Santa Faustina Kowalska que assumiu a missão de falar ao mundo da misericórdia de Deus.

Em Santarém, é neste Domingo da Páscoa que neste Santuário se promove com especial solenidade a celebração da Eucaristia referenciando o milagre eucarístico que aqui se registou no século XIII. Uma oportunidade para valorizarmos e agradecermos o dom do Sacramento da Eucaristia, o grande tesouro espiritual que o Senhor nos deixou, em memória da sua entrega ao Pai e entrega a nós como alimento.

As Leituras da Palavra de Deus deste Domingo são todas do Novo Testamento. Como escutámos no Evangelho (Jo 20,19-31), os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas, com medo dos judeus. Estavam ainda nos pós ressurreição com medo e dificuldade ementender tudo o que acontecera com a condenação e morte de Jesus. É nesta situação de grupo de discípulos reunidos no primeiro dia da semana que Jesus Ressuscitado lhes aparece, saudando-os na paz.

Para sintetizar esta passagem: 1-a reunião; estavam reunidos. 2-primeiro dia da semana; o domingo, o Dia do Senhor. 3-Recebem uma saudação de Paz. 4-Jesus mostrou-lhes as chagas; 5-Ficam cheios de alegria. A comunidade dos discípulos passa do medo à alegria!

 Jesus aparece para lhes dar uma missão: “Como o Pai me enviou também Eu vos envio a vós”. A missão é um sinal de Cristo Ressuscitado. Para esta missão eles necessitam de ter consigo o mesmo Espírito que estava com Jesus. Então, Jesus sopra sobre eles: “Recebei o Espírito Santo, àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados…”. O poder de Deus de perdoar que estava em Jesus é transmitido aos seus apóstolos, reunidos.

Foi este é o ponto de partida do Papa Francisco no início do seu ministério: a Igreja, povo de Deus, tem de ser missionária (cf. Evangelii Gaudium – 2013) e logo de seguida, a Igreja tem de viver e anunciar a Misericórdia de Deus e o Papa Francisco promoveu de seguida o Ano da Misericórdia – 2015).

Como efeito da Ressurreição de Jesus, aconteceu a aproximação de pessoas, reuniam-se, escutavam o ensinamento dos apóstolos,professavam a fé em Jesus, faziam oração, cultivavam o amor fraterno, a partilha de bens e tratavam-se por irmãos e irmãs. É oportuno lembrar o que ensinou São Paulo aos cristãos gálatas acerca do que devia ser a sua comunidade, uma comunidade que se deixa transformar pelo conhecimento do Evangelho e onde: “Não há judeu nem gregonem escravo nem livrenem homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus (Gal 3,28). Esta palavra, ensinamento cristão com dois mil anos, é um passo gigante no desenvolvimento da sociedade.

Na verdade, toda a consideração acerca da pessoa humana que permitiu o desenvolvimento das sociedades, tem por base o ensinamento cristão da respeitabilidade pelos nossos semelhantes.

 Irmãos e irmãs, a Ressurreição de Cristo é a vitória do amor que perdoa, amor de compaixão, o amor do Pai do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32), é isso o amor misericordioso, é um amor sem medida. É de tal importância o perdão no coração e na vida dos cristãos que Jesus o colocou na súplica da oração do Pai Nosso: “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido (Mt 6,12). Estamos no âmago da identidade cristã e o mundo tem muita dificuldade em receber esta mensagem do Evangelho. O mundo parece não acreditar no perdão como solução. Porém, rejeitar o perdão é rejeitar o amor e a paz; aceitar o perdão e perdoar é edificar a paz e salvar o mundo.


Informa São João no seu Evangelho (cf. Jo19,34) que da chaga do peito de Jesus, na cruz, jorrou sangue e água. Este facto foi interpretado espiritualmente como sendo a origem dos sacramentos do Batismo e da Eucaristia. Assim, os sacramentos que estão no centro da identidade e missão da Igreja nasceram do coração de Cristo,na Cruz, e do Espírito Santo. Neste sentido, a celebração da Eucaristia é uma celebração de reconciliação e de edificação da paz com a dimensão profética das Bem aventuranças (cf. Mt5,1-12) .

 É bom  sonhar o mundo todo reunido em pequenas ou grandes comunidades fundadas na dimensão do amor, do perdão e da paz. É o que nos oferece a Palavra de Deus da 1ª e 2ª Leituras:refletem uma experiência de Fé vivida em comunidade. A comunidade é uma dimensãohumana e cristã que necessita de ser valorizada, pois o ambiente cultural que temos privilegia o individualismo e não a vida em comunidade. Porém, a natureza revela-nos que a pessoa humana nasce com necessidade de apoio e esta interdependência é em si mesma um meio para nos humanizarmos. Portanto, promovamos o bem que pudermos uns pelos outros porque isso se inscreve na nossa vocação e realização.

A concluir, deixo dois apelos relativamente a este igreja-santuário do Santíssimo Milagre. Por se tratar de um santuário diocesano, importa cultivar, sem esmorecer, o que é próprio de um santuário: o acolhimento.

Acolher bem as pessoas, com tempo, disponibilidade e serenidade espiritual. Outro aspeto que me parece oportuno salientar é que Jesus continua a acolher duplamente: acolhe-nos através da pessoa que nos recebe e acolhe-nos no silêncio do sacrário. Neste sentido, a partir deste ano em que acontece em Portugal, Braga, o V Congresso Eucarístico Nacional (31 de maio a 2 de junho) seria muitobom que neste santuário do Santíssimo Milagre houvesse diariamente a exposição do Santíssimo Sacramento, isto é, o Sagrado Lausperene. O desejo do Bispo é que este santuário seja a referência permanente de um espaço de oração, espaço de encontro com Cristo que nos espera sempre.

 Irmãos e irmãs, o mistério da Eucaristia dá-nos a graça de entendermos melhor a nossa vida, a vida humana interpretada à luz da fé e do amor de Cristo. O santuário é o espaço consagrado onde o Senhor se encontra. Mas também cada um de nós é chamado a descobrir-se como um santuário, um espaço sagrado onde podem estar muitos amigos e onde Deus também pode estar. Neste sentido, a celebração da Eucaristia deve ser sempre motivo de alegria, no santuário exterior da assembleia e no santuário interior que todos têm. A mesma alegria dos discípulos que o Evangelho de hoje nos refere, a mesma alegria que teve Zaqueu, quando Jesus foi ficar em casa dele (cf. Lc 19,1-10), e tiveram os Discípulos de Emaús quando Jesus tomou a refeição com eles (cf. Lc24,13-35).

Deus conceda a todos os cristãos da nossa diocese e a todos os fiéis que visitam este Santuário, a alegria, a paz e a consolação da esperança para as suas preocupações. E da experiência da oração confiante, seja reforçada a dimensão missionária da vida. O mundo necessita do testemunho dos cristãos!


+ José Traquina

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