Domingo XXI do Tempo Comum – Ano A

Liturgia do Domingo de Pentecostes

(Massachusetts 27-08-2023)

Irmãos e irmãs

 Cada árvore é conhecida pelos seus próprios frutos (Mt 7,16). Nós conhecemos uma pessoa pela forma como se apresenta e comunica, pelas palavras que diz, como as pronuncia, pelo seu conteúdo, o seu objetivo a atingir, pelas virtudes ou qualidades humanas com que se identifica e pelas decisões que toma na sua vida. Foi assim que, progressivamente, os discípulosforam conhecendo a pessoa de Jesus, e concluíramcom a afirmação do apóstolo Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Jesus é o Senhor Santo Cristo, o Divino Espírito Santo estava com Ele.

Na pessoa de Jesus, o Espírito Santo de Deus e o espírito humano tinham-se encontrado de forma muito especial. Em Jesus, a presença do Espírito Santo não o levou apresentar-se como um superhomem. Ele era umariqueza de personalidade, profundamente humano,valorizava as pessoas pobres e pecadores, a quem se sentia enviado anunciando-lhes um tempo novo e a possibilidade de uma feliz conversão, suscitando a esperança e o muito bem que estava ao seu alcance.

 Jesus gastou tempo a preparar os seus discípulos paraviverem com Ele a sua Páscoa, a sua entrega,prometendo-lhes que, depois de ressuscitado, os faria participantes do Divino Espírito Santo, para assumirem a vida e a missão que lhes confiava. Foi o que escutámos no Evangelho (Jo 20,19-23). Depois da Ressurreição, no Dia da Semana (Domingo), Jesus aparece aos seus discípulos, saúda-os na sua paz, tira-lhes o medo e mostra-lhes os sinais da sua paixão e eles ficaram cheios de alegria!

Os discípulos recebem a missão: Assim como o Pai me enviou também vos envio a vós. Soprou sobre eles: Recebei o Espírito Santo: aqueles a quem perdoares os pecados serão perdoados. Estamos perante a  Consagração dos discípulos para a missão salvadora e libertadora, a mesma missão de Cristo!

 O Divino Espírito Santo é o agente principal da missão evangelizadora dos Apóstolos para levar o perdão. A Igreja surge como força do Divino Espírito Santo, como manifestação da bondade e misericórdia de Deus.

  Aqui reunidos, assumamos o que escutámos na 1ª Leitura dos Atos dos Apóstolos (2,1-11): o Espírito Santo, no Domingo de Pentecostes, desce em línguas de fogo sobre todos os que estavam reunidos em oração. Éo grande dom da Páscoa de Cristo a renovar e alegrar o coração e a vida daqueles que acreditam em Jesus. Então, acontece a comunhão na diversidade, uma só linguagem, pessoas de origens, culturas e línguas diferentes entendem-se. Em vez da divisão, temos a linguagem da bondade e da caridade que nos aproxima e identifica como cristãos. É nesta experiência e dimensão profética que podemos afirmar: a Paz é possível.

 Há uma História de Salvação que se conta com apresença atuante do Divino Espírito Santo. A diferença é que a partir de Jesus ressuscitado, a presença atuante do Divino Espírito Santo na Igreja nascente não é um privilégio fechado, apenas de alguns. Todos os cristãos são chamados a valorizar e a iluminar a sua vida à luz daFé, como uma missão a ser desempenhada com alegria e esperança, mas em dimensão comunitária, pois o Divino Espírito Santo inspirou a vida a ser edificada uns com os outros em comunidade e em sociedade, como tambémexorta São Paulo na 2ª Leitura (1Cor 12,3b-7.12-13):Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem de todos”.

Irmãos e irmãs, agradeço o convite que me fizeram para participar nesta Grande Festa do Divino Espírito Santo e presidir a esta celebração. Vejo aqui sinais importantes para responder a algumas preocupações atuais. Sintetizo tendo como referência três palavras.

1-Trabalho: o trabalho é necessário para nos realizarmos na vida e colaborarmos na edificação de um mundo melhor. Jesus também trabalhou e foi conhecido na sua terra como o filho do carpinteiro. Como escreveu o Papa Francisco, o trabalho não é só um modo de ganhar o pão, mas também um meio para o crescimento pessoal, para estabelecer relações sadias, expressar-se a si próprio, partilhar dons, sentir-se corresponsável no desenvolvimento do mundo” (FT 162).

Neste sentido, quero sublinhar o testemunho dos portugueses, especialmente dos Açores, que já há muitos anos procuraram rumar aos Estados Unidos da América para edificarem as suas vidas. Por acréscimo, os seus rendimentos produziram efeito para o crescimento daeconomia de Portugal.

Não podemos deixar de valorizar o trabalho voluntário. Milhões de pessoas no mundo oferecem o seu tempo e o seu saber como voluntários para o bem comum,edificação e alegria de outras pessoas. É uma das dimensões deste evento. Está aqui o testemunho de muito trabalho voluntário, um trabalho que aproxima as pessoas, exige capacidade organizativa, promove a generosidade e solidariedade de muitas pessoas e instituições. Estamos perante uma demonstração de capacidade de trabalho em equipa a diversos níveis que vale a pena sublinhar e agradecer.

2-Outra palavra é a Bondade. A bondade que se traduz em atenção, perdão e generosidade. A bondade exprime o amor humano e o melhor do interior de cada pessoa, isto é, o seu coração. Pois cada pessoa é o que for o seu coração.

A bondade não é virtude para pessoas inferiores, é parapessoas com elevação espiritual que sabem perdoar e ser exigentes, não cultivam o desejo de vingança mas antes promovem a compreensão da fragilidade dos outros e a reconciliação.

A bondade é uma graça do Divino Espírito Santo. Enesta Grande Festa, a bondade está bem expressa no cuidado da partilha de bens que se realizou na sexta feira. A bondade está ainda expressa no valor importante da cooperação entre gerações; nesta festa verificamos aparticipação e colaboração de pessoas de todas as idades. Jovens e menos jovens a colaborar juntos.

A bondade é fundamental para a salvação do mundo, para a salvação do planeta Terra e do futuro da humanidade. Convido-vos a aceitar o desafio que Jesus deixou aos seus discípulos: Vós sois o sal da terra; vós sois a luz do mundo (Mt 5,13). Onde estivermos, temos uma missão.

3A terceira palavra é a Festa. A Festa manifesta a plenitude da vida humana. A Festa para ser autêntica tem de ter alegria e paz. Na Igreja aprendemos a viver a vida em comunidade e alegria. A alegria dos Pastores de Belém quando foram contemplar o Menino no Presépio e a alegria da comunidade reunida no Pentecostesquando recebeu o Divino Espírito Santo. A Igreja, Povo de Deus, tem a marca da festa, encontramo-nos uns com os outros e com Deus para em festa celebrar a alegria da Ressurreição do Senhor. Festa quando há um Batismo, uma etapa da catequese, um Crisma ou um Casamento. As celebrações na Igreja são maioritariamente festivas.

Também em casa, em família, é importante o ambiente que permita a festa. A festa deve ser a marca do cristão. Com trabalho, com bondade e perdão é possível a Festa. Deus quer que haja festa no mundo, mas há milhões de pessoas para quem a vida não tem festa, é mais parecida com o inferno. Por isso mesmo, há tanto para fazer para que o mundo seja mais justo e melhor.

Esta grande Festa do Divino Espírito Santo é profética.A partir de uma tradição, promove a realizão e o sentido da própria vida. Promove a realização porque junta as pessoas e traduz esta verdade: não nascemos para viver isolados, mas uns com os outros e uns para os outros. Dá-nos o sentido da vida, porque acreditamos que a vida eterna há de ser uma Grande Festa na presença de Deus.

Com a graça do Divino Espírito Santo, alegremo-nos e manifestemos a nossa confiança como fez Maria, a Virgem Mãe do Senhor: A minha alma exulta de alegria porque o Senhor olhou para a sua humilde serva. Ámen

+ José Traquina

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