Homilia na Solenidade da Dedicação da Catedral
(47º Aniversário da Criação da Diocese)
Santarém, 15-07-2022 (Missa Vespertina da Solenidade)
Cónego José Miguel, Reitor do Seminário dos Olivais e companheiros Sacerdotes da Equipa. Caríssimos Padres e Diáconos, Seminaristas, Irmãs de Vida Consagrada, irmãos e irmãs em Cristo representantes de Comunidades da Diocese.
A Solenidade da Dedicação da Catedral, acontece no mesmo dia do aniversário da criação da Diocese. Esta Liturgia fica assim reforçada de significado, acrescida ainda pela instituição no ministério de Acólito dos dois seminaristas Dionísio e Magney. Com fortes motivos de ação de graças, esta celebração acontece numa fase de avaliação do ano pastoral 2021-2022: um ano marcado pela pandemia, com mais liberdade para a celebração da eucaristia, etapas da Catequese e outras atividades pastorais a partir da Páscoa. Marcado também pela experiência da fase diocesana do Sínodo 2021-2023 e pela Festa das Famílias que aconteceu em sintonia com o Encontro mundial das Família em Roma. Foi possível ainda concluir a visita pastoral na Vigararia de Torres Novas, que tinha sido iniciada em 2019 e interrompida em janeiro se 2020. Um ano marcado por uma guerra que continua na Ucrânia, que não imaginávamos possível acontecer num mundo considerado desenvolvido. Enfim, um ano em que a redução de pastores se fez sentir numa maior ocupação e dispersão de serviço por parte dos padres e também dos diáconos. Estamos nas mãos de Deus e pedimos às nossas comunidades a compreensão e a insistência na súplica por novos trabalhadores para esta seara do Senhor.
A primeira leitura de Neemias (8,2-4a.5-6.8-10), ajuda-nos a valorizar uma dimensão da Dedicação da igreja Catedral: a proclamação da Palavra de Deus.
Tendo o povo de Israel regressado do exílio da Babilónia a Jerusalém, ainda sem o templo reconstruído, o sacerdote Esdras promove com boa preparação uma grande celebração da Palavra. E o povo escutava e chorava, não de tristeza mas de felicidade porque aquela assembleia e aquela Palavra explicada gerava-lhes a proximidade de Deus, alegria e vida com sentido.
Continua a ser necessário dar relevo à Sagrada Escritura e foi por isso que o Papa Francisco instituiu o Domingo da Palavra de Deus, a acontecer no III Domingo do Tempo Comum, recordando o ensinamento de S. Jerónimo: “a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo”.
Pode acontecer não haver Eucaristia, na Catedral ou noutra igreja por falta de um padre, mas seja escutada a Palavra do Evangelho com uma meditação para melhor enriquecimento. “Somos uma missão nesta terra” (EG 273), é o nosso lema, e a primeira dimensão da missão é anunciar o Evangelho do Reino e da paz. É bom que todos o cristãos tenham referência pessoal a alguma passagem ou parábola do Evangelho, e a algum salmo bíblico que mais goste de rezar.
A igreja Catedral é referência para toda a Igreja Diocesana. Existe a igreja como espaço edificado porque existe a igreja povo de Deus, edifício espiritual. Assim ensina São Paulo, aos cristãos da comunidade de Éfeso (cf. Ef 2,19-22) com uma palavra que hoje é para nós Palavra de Deus: “Sois o edifício construído sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, que tem Cristo Jesus como pedra angular”. A pedra angular do edifício é a rocha firme sobre a qual a nossa fragilidade humana ganha segurança.
A igreja Catedral é referência deste outro edifício espiritual que são os cristãos da Diocese e símbolo da comunhão da Fé apostólica. “Já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus”. É o grande apelo da mensagem evangélica: a fé traduzida em fraternidade.
No concelho de Santarém existem mais de 3.500 migrantes estrangeiros e em toda a área da Diocese mais de 11.700. Para os migrantes estrangeiros que são cristãos, é bom que quando vêm à igreja se sintam em casa própria; na Igreja não há estrangeiros, somos a nova família do Senhor se escutarmos a sua Palavra e a pusermos em prática.
Também os seminaristas Dionísio Leite e Magney Silveira, vieram de longe e hoje fazem parte da nossa família diocesana.
A igreja Catedral também nos dá como referência os nossos familiares Santos: Nossa Senhora, o Beato Frei Gil de Santarém, Santo Inácio de Loyola, São Francisco de Borja. Também o nosso 1º Bispo D. António Francisco é aqui referência especial, está aqui sepultado. O que têm em comum estes nossos irmãos na Fé? A todos eles Deus chamou individualmente. Foi o que aconteceu com Zaqueu! (cf. Lc 19,1-10). É a outra dimensão do templo do cristão: a casa onde se reside e a morada interior do coração e da consciência.
Jesus escandalizou os habitantes de Jericó, onde havia tanta gente justa, preferindo ficar em casa de um pecador que ninguém gostava: um injusto cobrador de impostos. Jesus consegue surpreender, sabe interpretar o que há em cada pessoa, interpela individualmente e desafia a um relacionamento privilegiado: “preciso de ficar em tua casa”, diz Jesus a Zaqueu e a cada um de nós.
A proximidade e a palavra de Cristo gerou mudança e alegria interior. E Zaqueu, de homem injusto que era, passou a agir com generosidade e a gerar felicidade na vida de muitas pessoas.
O Evangelho proclamado é também um ensinamento pedagógico para a ação pastoral. A pregação na assembleia não dispensa um momento de encontro, um relacionamento individual onde se apresentam propostas e interpelações pessoais.
Irmãos e irmãs, hoje não será entregue o Programa para o próximo ano pastoral, está em elaboração. Se não vos chegar antes, será entregue na Assembleia Diocesana a realizar em 24 de Setembro. São vários os desafios que se apresentam a contar com cristãos animados pela fé e assumir a vida com sentido de missão: na Catequese, com novo itinerário catequético, na Pastoral Familiar, com novas indicações para o acompanhamento dos noivos, a Pastoral Juvenil, que conta com o apoio dos adultos para poderem acolher e participar na JMJ2023, a Ação Social com todo o desafio que enfrentam as instituições de solidariedade social, e as iniciativas de participação que resultam da Síntese diocesana do Sínodo 2021-2023..
Caros seminaristas Dionísio e Magney, Jesus também olhou para vós com afeto e quis chamar-vos a segui-lo trazendo-vos até Santarém e colocando no vosso horizonte servir o povo de Deus desta Diocese. Com parecer favorável de quem vos conhece e acompanha, sois hoje admitidos no ministério dos Acólitos, o que significa colocar-vos na especial proximidade da celebração da Eucaristia, fonte e vértice de toda a Igreja povo de Deus. Sabendo que esta instituição acontece no vosso percurso vocacional para a ministério sacerdotal é, por isso, um sinal de esperança. Conto e espero que seja sincera e feliz a vossa entrega no exercício deste novo ministério e sejais verdadeiros amigos de Cristo e, no mesmo amor, amigos e dedicados ao seu povo.
+ José Traquina