I  Domingo da Quaresma  (Ano B)

Catedral de Santarém,18-02-2024

 

Irmãos e irmãs

A Palavra deste primeiro Domingo da Quaresma, a começar na Leitura do Livro do Génesis, revela-nos a bondade e fidelidade de Deus na Aliança em que se compromete com Noé a defender pessoas e animais de modo que não haverá outro dilúvio a devastar a terra.

Também Jesus, antes de começar a sua vida pública, foi batizado por João Batista no Rio Jordão. O Batismo é a afirmação da aliança, do compromisso que Deus assume para com a sua criatura. O Batismo de Jesus traduz a nova Aliança, o novo compromisso que havia de ser consumado com a entrega de Jesus na sua Páscoa

Ensina o Apóstolo Pedro, na segunda leitura,que a água do tempo de Noé “é figura do Batismo que agora vos salva”. Mas também do nosso “compromisso para com Deus de uma boa consciência, pela ressurreição de Jesus Cristo”. Neste sentido, a Quaresma é tempo de preparação para renovarmos as promessas do nosso Batismo na Vigília Pascal.

Na breve narrativa de São Marcos, o evangelista começa por dizer que o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. O deserto é um espaço concreto que pela ausência de distrações e barulhos facilita o encontro com Deus na intimidade. E facilita porque há silêncio.

Vivemos num tempo em que muitas pessoas vivem super ocupadas e em atividade permanente,porém, muitas outras buscam momentos sem barulho. Como escreveu o Papa Bento XVI: “Sabemos pelos Evangelhos que Jesus passava muitas vezes a noite sozinho «no monte» a rezar, em diálogo com o Pai. Sabemos que o seu falar, a sua palavra, provém destes tempos de silencio e que só no silêncio podia amadurecer. Por isso, é esclarecedor que a sua palavra só possa ser corretamente compreendida se entrarmos no seu silêncio, se aprendermos a escutar a partir do modo como guardava o silêncio” (Páscoa de 2017).

Neste tempo, as informações acerca do mundo dizem que o barulho em muitas partes é ensurdecedor e o medo instala-se. O modo como nos podemos reconhecer como imagem e semelhança de Deus, reside em fazer a experiência de Jesus: entrar em silêncio. Algumas pessoas poderão ter dificuldade por falta de experiência, mas todas estão habilitadas a fazer silêncio permitindo assim não só melhor condição para a oração como também a descoberta de novas capacidades, nomeadamente a de perdoar e de obter mais criatividade para vida. O silêncio não humilha, engrandece e ajuda-nos a redescobrir-nos com verdade e esperança. Assim, para nos encontrarmos com Deus em qualquer parte, no alto do monte ou em frente de um sacrário, a condição é o silêncio.

O silêncio que referenciamos não é um elogio àsolidão doentia. Antes pelo contrário, é um modo muito saudável e espiritual de vencer a solidão. Para resolver bem a vida, com problemas ou grandes missões, somos convidados a fazer como Jesus, a fazer silêncio e promover a oração, sabendo que, mesmo assim, não estamos livres de tentações. É necessário vigilância para discernir e responder com Fé. É necessário distinguir o que é a tentação e o que é a vontade de Deus. Uma opção possível que parece boa, fácil e não prejudica ninguém, pode ser uma tentação bem disfarçada que tem a ver com uma das três dimensões da vida em que facilmente se cai: o poder, o prazer e o prestígio. É na ansiedade destas dimensões que o demónio se aproveita para conduzir muitos à corrupção, à maldade e injustiça e ao ridículo do complexo de superioridade.

Como escreveu o Papa Francisco na sua mensagem para esta Quaresma: “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade”. Vivemos  num tempo em que milhares de pessoas atravessam um pesado tempo de deserto, entendido como provação, humilhação e muitas a morrer por força de ódios acumulados ao longo de décadas. 

O silêncio pode ser uma marca deste tempo quaresmal que nos permitirá o exercício penitencial, como busca de maior perfeição cristã, melhor identificação com Cristo. Assim agindo na construção da paz, cuidemos por vigiar para que os nossos sentimentos não sejam condicionados pelo mal que acontece no mundo mas pela fé, esperança e caridade que Deus quer em nosso coração. 

O Evangelho tem o apelo à mudança e à realização das promessas proféticas. “Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus”. Com Jesus é possível o tempo novo do Espírito Santo onde reina a compaixão de Deus no íntimo de cada pessoa. É essa compaixão e sonho que somos convidados a cultivar em oração silenciosa em tempo de quaresma e em partilha com alguma renúncia quaresmal.

Escreveu o Papa Francisco na sua mensagem: “Na medida em que esta Quaresma for de conversão, a humanidade extraviada sentirá um estremeção de criatividade: o lampejar duma nova esperança. Quero dizer-vos, como aos jovens que encontrei em Lisboa no verão passado: «Procurai e arriscai; sim, procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos a viver uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. E é preciso coragem para pensar assim»”.

Irmãos e irmãs, em várias paróquias da nossa Diocese diversos grupos de jovens da Missão País” têm dado um bom testemunho com grande efeito naquelas comunidades paroquiaistestemunho juvenil de fé, de esperança, disponibilidade, dedicação e de alegria abundante. Marcaram muito positivamente o início da Quaresma naquelas comunidades.

 ​Vivamos o caminho quaresmal, com Deus e uns com os outros, em exercício de conversão, com vigilância, oração, generosidade e também com alegria e esperançaabrindo-nos ao tempo novo que Jesus inaugurou com a sua Páscoa. 

+ José Traquina

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