III Domingo da Quaresma

Basílica da Santíssima Trindade, Fátima

Irmãos e Irmãs

A Primeira Leitura que escutámos, tirada do Livro do Êxodo (20,1-17), apresenta-nos a entrega ao povo hebreu dos 10 Mandamentos, a Lei de Deus. É de salientar que antes da apresentação dos Mandamentos, está a afirmação: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirei da terra do Egipto, dessa casa de escravidão. Isto significa que, Yahweh, Deus libertador e autor da Lei, opõe-se à escravidão humana. Assim, os 10 Mandamentos são as palavras dadas por Deus ao seu povo como compromisso da Aliança estabelecida e que, postas em prática, assegurarão que o povo não será mais um povo escravo, nem do Egipto nem de outros povos.

 Os 10 Mandamentos revelam um desenvolvimento humano, social e religioso. Cada pessoa é chamada a descentralizar-se de si mesma para atender, adorar e respeitar a Deus, amando e respeitando os seus semelhantes, a começar pelo pai e pela mãe (quarto mandamento). Significa também um crescimento na virtude e na vigilância permanente de sentimentos e desejos, de modo a que nenhum procedimento ofenda os semelhantes. Se observares estes preceitos, os guardares e cumprires, o Senhor teu Deus, também será fiel à aliança e bondade que jurou a teus pais. Ele te amará e abençoará” (Dt 7,12-13a).

 Tudo isto é bem, porém, aconteceu que os Dez Mandamentos foram regulamentados, desdobrados em dezenas de regras apertadas, e sem desvalorizar a Lei dos 10 Mandamentos, Jesus teve de corrigir certas interpretações porque de uma lei libertadora, surgiram regras que escravizavam as pessoas. Um exemplo: não se entende porque havia de ser proibido curar uma pessoa em dia de sábado e por isso Jesus vai dizer: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27).

 Digamos que Jesus vem trazer uma Boa Nova, uma nova interpretação, vem tornar presente o espírito da Lei e afirma a centralidade da pessoa humana. Tudo existe por causa das pessoas e são as pessoas que são chamadas a conhecer o mistério da sua existência e a dignidade das suas vidas. Jesus veio a este mundo para estar com todos os que desejam ser realmente livres porque é esse o espírito da Lei. Jesus não quer atrás de si um grupo de seguidores escravos. Quer pessoas libertadas. Desafiou à coragem da conversão, da vida renovada pelo perdão, pela capacidade de olhar e considerar os outros a partir do coração de Deus e descobrir, assim, que o Amor de Cristo é a plenitude da Lei.

Com a sua livre entrega, Jesus estabelece a Nova Aliança. É a afirmação extrema do Amor, a consagrar tudo o que tinha ensinado: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam” (Lc 6,27-28). E foi assim que procedeu quando o crucificaram: “Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

 É neste Amor que contemplamos na cruz, que recebemos a força e a sabedoria para combater o mal e pôr em prática os Dez Mandamentos e todo o bem que Jesus nos propõe como seus discípulos. Do fracasso da morte na cruz, havemos de reconhecer a força do Amor que salva o mundo. Como ouvimos na segunda leitura, de São Paulo aos Coríntios,Cristo époder e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens(1Cor 1,25).

No Evangelho (Jo 2,13-25) Jesus expulsa os vendilhões do templo. O zelo profético de Jesus a deitar abaixo aquele comércio instalado no templo de Jerusalém, parece não corresponder com o estilo bondoso de Jesus a que estamos mais habituados. A passagem é reveladora da Boa Nova, manifesta que são chegados os tempos messiânicos em que aquele comércio já não tem significado. É necessário um culto novo em que a pessoa humana seja o principal espaço sagrado.

  Falando deste templo que era o seu corpo, Jesus sugere um desafio espiritual: a edificação do ‘homem novo’. Para isso, énecessário expulsar do nosso coração o que está a mais e a obstruir para que seja um ‘espaço sagrado. O Reino de Deus que Cristo nos propõe,necessita de alguma violência de zelo da fé para assegurarmos a nossa identidade cristã. Assim,  em caminho para a celebração da Páscoa, este Domingo pode ficar marcado pela mensagem do Evangelho: a coragem de retirar do coração, templo interior, o que está a perturbar o bom relacionamento com Deus.

Este III Domingo da Quaresma, é conhecido como o Domingo da Cáritas. ‘Cáritas, o amor que transforma’ é lema de toda a rede Cáritas para designar a motivação e o testemunho de muitos colaboradores, voluntários e doadores que asseguram e desejam a transformação social em muitas pessoas carenciadas de apoio. Hoje é dia especial de oportunidade para dar uma oferta aos mais necessitados através da Cáritas.

Referencio também a Associação dos Centros de Preparação para o Matrimónio que se encontra bem representada nesta celebração. O CPM já há muitos anos tem assegurado um bom testemunho no acompanhamento dos noivos na preparação para a vida matrimonial.

É bom e necessário reconhecermos que se trata de uma missão da Igreja. Os dois sacramentos do Matrimónio e da Ordem, e também o sacramental da Profissão de Vida Consagrada, correspondem a mudanças e grandes decisões de vida. Por isso mesmo supõe amadurecimento vocacional e preparação para abraçar a vida com conhecimento e objetividade. Também o Matrimónio corresponde a uma vocação e uma decisão de vida com especial significado. Se existe preocupação com a formação para a vida consagrada e sacerdotal, também tem de haver para a vida matrimonial.

 Para um casal de noivos com fé, maturidade humana e boa preparação, o sacramento do Matrimónio torna-se uma fonte de perfeição. É esse o sentido do caminho a fazer na santidade de vida, procurando a ajuda que Deus assegura aos seus filhos que rezam e se juntam para a celebração da Eucaristia.

Como escreveu o Papa Francisco: “Cada matrimónio é uma «história de salvação», o que supõe partir duma fragilidade que, graças ao dom de Deus e a uma resposta criativa e generosa, pouco a pouco vai dando lugar a uma realidade cada vez mais sólida e preciosa. Talvez a maior missão dum homem e duma mulher no amor seja esta: a de se tornarem, um ao outro, mais homem e mais mulher. Fazer crescer é ajudar o outro a moldar-se na sua própria identidade” (AL 221).

Irmãos e irmãs, colaborar na preparação da vida matrimonial é um bem que se projeta em várias dimensões: um bem para a própria família, um bem para a sociedade, um bem para a Igreja, um bem para o futuro de todos. Obviamente, a segurança, o bem estar social e o desenvolvimento da sociedade, não dependem só da economia, dependem também, e muito, das famílias e das escolas.

 Estamos gratos a todos os casais do CPM que a nível nacional dão o seu testemunho junto dos noivos que se preparam para a vida matrimonial e rogamos a Bênção para o bom êxito da sua dedicação.

+ José Traquina

 

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