Diocese de Santarém

Somos uma missão nesta terra (EG 273)

Programa Pastoral 2022-2023

Objetivo principal:  Evangelizar pelo cuidado

Carta do Bispo da Diocese

Caros irmãos e irmãs em Cristo

 Saúdo-vos, no início deste novo ano pastoral, partilhando convosco alguns pontos de reflexão que acompanham o programa e o calendário pastoral da Diocese.

1. Evangelizar pelo cuidado como Igreja sinodal

 Neste quarto ano do projeto pastoral que nos levará até à celebração do cinquentenário da criação da nossa Diocese, em 2025, temos como objetivo principal: ‘Evangelizar pelo cuidado’. Por ‘cuidado’ entenda-se a diligência em manter um bom propósito, uma dedicação ou trabalho com um objetivo justo e bom. Mas o cuidado supõe e exige proximidade caridosa e o exemplo vem de Deus. No centro da fé bíblica, há o amor de Deus, o seu cuidado concreto por cada pessoa, o seu desejo de salvação que abra toda a humanidade e a criação inteira e que atinge o clímax na encarnação, morte e ressurreiçãode Jesus Cristo” (Lumen Fidei 54).

 A nossa grande referência na missão de evangelização é Jesus que de todos se aproximava: olhou com compaixão o jovem que dele se aproximou (cf. Mc10,21); em Jericó mandou que lhe trouxessem o cego, Bartimeu, que por Ele gritava suplicando (cf. Mc 10,46-52); deixou que a mulher cananeia se aproximasse, reconheceu a sua fé e curou-lhe a filha (cf. Mc 7,24-30);teve compaixão de uma multidão de pessoas famintas porque eram “como ovelhas sem pastor” (cf. Mc 6,34-44). Jesus veio cuidar aproximando-se de cada pessoapropondo-lhe o acolhimento do dom de Deus (cf. Jo 4,10) e associou a si os doze apóstolos a quem confiou a sua missão, pela sua Palavra e comunicação do Espírito Santo. “Jesus, o evangelizador por excelência e o Evangelho em pessoa, identificou-Se especialmente com os mais pequeninos (cf. Mt 25, 40). Isto recorda-nos, a todos os cristãos, que somos chamados a cuidar dos mais frágeis da Terra” (EG 209).

   O ‘cuidado’ continua na proximidade que se promove, no ‘desconforto’ de partir ao encontro, no trabalho que é necessário realizar, no bem comum que se deseja promover, na luz que se deseja acender para iluminar o caminho, na conversão ao verdadeiro sentido da vida, no perdão por força do amor e na festa de uma refeição que antecipa a alegria do Reino dos céus.

 A sinodalidade da Igreja, cuja reflexão continua no processo do Sínodo dos Bispos 2021-2023, é o modo de ser Igreja que resulta da interpretação e aplicação do Concílio Vaticano II. Trata-se de caminharmos juntos, como Igreja Povo de Deus que assume “uma missão nesta terra”. Neste sentido, e de acordo com a Síntese Diocesana da primeira fase do Sínodo, são diversos os aspetos da vida da Igreja Diocesana que é necessário retomar para promover a participação e a corresponsabilidade na missão.

 A Síntese Diocesana, acerca da qual recebi elogios de fora da Diocese, é muito útil para fazermos revisão do que é necessário promover para melhor fidelidade evangélica, tendo especialmente presente as propostas de mudança e desafios à conversão que são apresentadas. Subscrevo a proposta de “dar continuidade e aprofundar a dinâmica do processo sinodal nas comunidades” e relativamente à participação, é nosso propósito promover o funcionamento do Conselho Pastoral Diocesano.

 No cuidado de conhecer e ouvir os cristãos das comunidades paroquiais, a visita pastoral do Bispo é uma oportunidade de efeitos surpreendentes.  Este ano daremos início à visita pastoral na vigararia de Santarém, a começar pelas paróquias mais distantes do Concelho de Santarém.

2. O cuidado pela paz

 Quando já pensávamos no alívio do tempo da pandemia, no passado mês de fevereiro eclodiu a guerra na Ucrânia com novas preocupações perturbadoras para o funcionamento da sociedade, especialmente na Europa. Registamos a resposta positiva: a imediata onda de solidariedade para com os ucranianos, concretizada também no acolhimento dos milhares que pediram refúgio em Portugal.

   Uma guerra suscita reflexões sobre a existência humana, as formas de organização das sociedades e a falta de respeitabilidade e confiança entre os habitantes do mundo. Muitos se interrogam sobre a dimensão de fé em tempo de guerra. Onde está Deus? Estamos convictos de que está próximo e sempre à espera que o homem se deixe tocar pela sua presença. Entretanto, os efeitos económicos da guerra já atingiram com gravidade as pessoas, as famílias, as empresas e as instituições, sendo as pessoas pobres as que mais sofrem com a inflação dos preços e das taxas.

 Continuemos a rezar pela paz, para que os homens se decidam ao diálogo das negociações que é a forma dignificante de encontrar solução para os problemas. Cultivemos a esperança. “Nestes últimos tempos tão difíceis, em que a humanidade já provada pelo trauma da pandemia, é dilacerada pelo drama da guerra, Maria reabre para todos e em particular para vós, jovens como Ela, o caminho da proximidade e do encontro. Espero e creio fortemente que a experiência que muitos de vós ireis viver em Lisboa, no mês de agosto do próximo ano, representará um novo começo para vós jovens e, convosco, para toda a humanidade(Mensagem do Papa Francisco aos jovens, 15-08-2022).

3. Cuidar da preparação e participação na JMJLisboa 2023

     «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39) é a citação bíblica escolhida pelo Papa Francisco como lema da Jornada Mundial da Juventude que acontecerá em Lisboa de 1 a 6 de agosto. Depois da Anunciação, Maria tem o primeiro cuidado evangelizador:“levantou-se e partiu apressadamente” para se aproximar da sua prima Isabel. Espera-se que a JMJ Lisboa 2023 seja um grande sinal evangelizador, um grande anúncio, onde se revele o cuidado de Deus pelo mundo, num tempo em que os jovens são chamados a cuidar na edificação das suas vidas e da sociedade do seu futuro.

 Os jovens são já a Igreja de hoje. Todavia, para muitos a Jornada Mundial da Juventude será um ‘primeiro anúncio’ de Cristo vivo, para outros, uma grande experiência de Fé, para todos será uma grande experiência de universalidade, de beleza, de comunicação, de estética e de arte com sentido de Festa. Os jovens da JMJ Lisboa 2023 são os jovens deste tempo da História e por isso este encontro vai ser uma grande referência nas suas vidas.  

  Peço às famílias e a todas as Paróquias que se motivem no apoio aos seus jovens, que querem participar na Jornada e na organização do apoio de acolhimento aos jovens de fora da Diocese que serão indicados para ficarem alojados na nossa área. Seja vencida a indiferença e colocado todo o empenho neste acontecimento marcante para os jovens deste tempo. Entretanto, um aspeto de preparação não pode faltar: a oração. O que desejamos que seja a JMJ Lisboa 2023 devemos pedi-lo em oração e avançarmos confiantes com esperança, como fez a Virgem Maria.

4. O testemunho de uma cuidadora: Luiza Andaluz

 Os jovens da nossa Diocese adotaram a Venerável Luiza Andaluz como sua patrona para a preparação e vivência da JMJ Lisboa 2023. No dia 20 de agosto de 2023, fará cinquenta anos que faleceu Luiza Andaluz. Por esta ocorrência, a Diocese de Santarém e as Servas de Nossa Senhora de Fátima, contando com os jovens, irão promover algumas iniciativas onde se manifeste a dimensão humana e espiritual da fundadora daquela Congregação. “Passar fazendo o Bem, à imitação do Mestre Divino, tornar felizes os que nos rodeiam, que doce programa de vida” (Luiza Andaluz, 1954).

5. Cuidar da Pastoral das Vocações

  A pastoral das vocações é transversal a todas as dimensões da vida cristã. Todos os cristãos são chamados à santidade de vida, com tudo o que isso supõe de beleza, descoberta, purificação, luminosidade, companhia, interioridade, vida em comunhão, e sentido de missão. Em síntese, é a vocação à santidade de vida que resulta da nossa consagração batismal.

 Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus” (Gaudete et Exsultate 7)

  Entretanto, a falta de jovens interessados em aprofundar a vida cristã em sentido vocacional, na hipótese de uma especial consagração na vida religiosa, missionária ou sacerdotal, tem suscitado na nossa Diocese a necessidade de refletir e rezar por esta intenção. Na Conferência Episcopal Portuguesa, este assunto está a ser refletido com a promoção de um novo documento de orientação para a formação dos novos padres nas diocesesde Portugal e também acerca da pastoral das vocações. Nesta sequência, havemos de aproveitar para colocar esta preocupação a nível dos animadores da catequese, pastoral juvenil e pastoral familiar. Com os padres e diáconos contamos poder refletir em conjunto num dia de formação sobre este assunto.

6. O Cuidado da Pastoral Familiar e da Catequese

 A pastoral familiar é transversal a muitos cuidados na missão de vida e de evangelização. Deste modo, os desafios são muitos: a qualidade de relacionamento entre casais, o acompanhamento dos familiares, na escola, na catequese, na pastoral juvenil, a colaboração na preparação para o casamento, na preparação de batismos, no cuidado pela vida da Igreja e seus pastores, na promoção da vida espiritual e dimensão vocacional, na atenção às pessoas mais idosas e na promoção do sentido da vida: a festa.

 Quanto à Catequese estão programados vários encontros de formação, mas não está previsto para este ano pastoral a implementação do novo itinerário catequético.

  Relativamente à Pastoral Familiar e à Catequese, sugiro que se leia o que consta nos objetivos e linhas de ação.

7. A Pastoral Social e Pastoral da Saúde: o grande testemunho do Evangelho vivo junto de quem necessita de cuidados.

 A pessoa humana é a centralidade, o valor e o fundamento de toda a ação social da Igreja. Assim, a pastoral social corresponde a toda a proximidade socio caritativa, a exemplo do Bom Samaritano (cf. Lc 10,29-37), e também à promoção social da consciência pela dignidade de toda a pessoa humana.

  Com o passar dos anos e a progressiva difusão da Igreja, a prática da caridade confirmou-se como um dos seus âmbitos essenciais, juntamente com a administração dos Sacramentos e o anúncio da Palavra: praticar o amor para com as viúvas e os órfãos, os presos, os doentes e necessitados de qualquer género, pertence tanto à sua essência como o serviço dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho. A Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os Sacramentos nem a Palavra(Deus Caritas Est 22).

  O tempo da pandemia revelou a boa vontade de muitas pessoas que asseguraram tempos de serviço e dedicação para cuidar de quem precisava. Importa reconhecer que todos os dias muitos homens e mulheres dedicam-se ao cuidado pelas pessoas doentes ou fragilizadas e por aquelas mais idosas. Entretanto, as instituições sociais estão com dificuldade em suportar a inflação dos custos da energia e alimentação, bem comoem contratar pessoas para trabalhar nos lares e cuidar de pessoas idosas.

 É bom que todas as Paróquias tenham um grupo Cáritas Paroquial para haver respostas preparadas às situações de especial cuidado que necessitam de apoio ou encaminhamento. Uma resposta possível de imediato é o apoio e informação a dar aos estrangeiros, preparado pela Cáritas Diocesana e ao dispor das Cáritas Paroquiais.

  Importa também valorizar a pastoral da saúde nodedicado apoio nas residências de família, nos hospitais e nos cuidados de saúde prestados pelas santas sasas da misericórdia e pelos centros sociais paroquiais. Valorizar a pastoral da saúde é valorizar o cuidado pela vida. É bom que nas paróquias funcione o cuidado pelos irmãos doentes através da visita realizada pelos ministros extraordinários da sagrada comunhão.

 Os capelães hospitalares lembram-nos que, quando um cristão é hospitalizado, seja informada a respetiva capelania hospitalar. Em todas as paróquias, e em dia a escolher, pode promover-se o sacramento da Santa Unção, em celebração comunitária para o efeito, para as pessoas doentes que o queiram receber. Durante o ano pastoral iremos aprofundar a importância deste Sacramento.

 A alegria da missão

 Irmãos e irmãs, assim como Nossa Senhora partiu apressadamente, cheia de alegria, para se encontrar com a sua prima Isabel, também o nosso ano pastoral seja um contínuo partir ao encontro de alguém a quem podemos dar um testemunho de proximidade e cuidado. Seja um ano marcado pelo apoio aos jovens e na responsabilidade missionária de apresentar propostas de participação.

  Na alegria da Fé e com esperança, rezemos uns pelos outros e pelo bom crescimento de cuidado e fé apostólica de toda a Diocese

 Com amizade, em Cristo Bom Pastor.    

 Santarém, 15 de setembro de 2022

 + José Traquina

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