49º Aniversário da Criação da Diocese
Santarém, 16-07-2024
Irmãos e irmãs
“Bendito seja Deus, que nos reuniu no Amor de Cristo”. Faz hoje 49 anos que o Papa São Paulo VI criou a Diocese de Santarém pela Bula Apostolicae Sedis Consuetudinem. Por isso, esta celebração tem especial significado: far-se-ão as orações próprias da Dedicação da Catedral e também as do Rito da dedicação do novo altar; damos graças pelos dons recebidos, não esquecendo o bom testemunho de milhares de cristãos, homens e mulheres, que na caminhada da nossa Igreja Diocesana se dedicaram em causas diversas e, assim, damos início ao Jubileu do Cinquentenário da criação da Diocese, rezando juntos no final a oração promovida para este tempo.
Saúdo o Senhor Bispo Emérito, D. Manuel Pelino, que presidiu como Bispo Diocesano durante quase 19 anos. Saúdo as entidades:
– D. Bernardino Ferreira da Costa, Abade de Singeverga;
-Vice-Presidente da Câmara Municipal de Santarém, Dr. João Leite;
-Vereador da Câmara Municipal de Santarém, da Cultura e Património Cultural: Dr. Nuno Domingos;
-Presidente da União de Freguesias da cidade de Santarém, Diamantino Duarte;
-Representante do Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Santarém;
-os Reverendos Padres e Diáconos, Seminaristas, Irmãs de vida consagrada, Irmãos e Irmãs em Cristo, representantes das diversas paróquias e movimentos da Diocese.
As guerras e conflitos que manifestam e fazem aumentar o ódio e a destruição de pessoas e bens, é um desafio à nossa identidade e criatividade como construtores da paz. A dificuldade do desenvolvimento integral de toda a sociedade e a capacidade de acolhimento e integração progressiva dos migrantes, é também desafio a não nos fecharmos nos interesses particulares, mas a interessarmo-nos na melhor integração e desenvolvimento de todos.
Entretanto, há certas opções de caminho que tornam difícil o diálogo e a vida em sociedade: pessoas para quem já não interessam os conceitos de verdade e mentira, interessa-lhes, somente, se o que está em causa é ou não vantajoso. Outras rejeitam lidar com os conceitos de bem e de mal, porque correspondem a códigos de moralidade e defendem que, sem limites, seja posto em prática tudo o que for tecnologicamente possível. Outros, ainda, consideram que a cultura da nossa civilização é repressiva e defendem o abandono dos valores comuns tradicionais recebidos na família e na sociedade.
Tudo isto é desafiante para quem acredita e sabe que não estamos condenados ao vazio da existência. Que graça tiveram aquelas pessoas que nos refere a primeira Leitura que escutámos, de Neemias (8,2-4a.5-6.8-10); juntaram-se para escutar uma Palavra boa e o efeito foi grande: chegaram às lágrimas. Reconheceram a sua responsabilidade nos afastamentos, na falta de vigilância, no abandono dos códigos de conduta por influências nefastas à sua identidade cultural. A Palavra proclamada atingiu a consciência, não por se sentirem condenados, mas por descobrirem como Deus é cheio de compaixão e refaz em cada pessoa a luz da esperança. E Neemias concluiu: “Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a nossa fortaleza”.
A Diocese de Santarém, ao longo destes 49 anos, fez a sua caminhada, com alegrias e fragilidades, escutando e anunciando o Evangelho, escutando também a Palavra do Papa e da Sé Apostólica. Neste caminho aprendeu-se muito mas perderam-se algumas propostas de formação de leigos, propostas que têm sido lembradas como algo de indispensável; o Cinquentenário também é inspirador e oportunidade para conjugar esforços e promover a formação cristã.
Com o acolhimento da Palavra do Papa Francisco, a partir das conclusões do Sínodo sobre a Sinodalidade, a Diocese de Santarém fará o seu caminho procurando promover a comunhão eclesial na fidelidade a Cristo e ao Papa, sucessor do Apóstolo Pedro.
A primeira e grande responsabilidade da missão que temos, é promover o encontro e o melhor conhecimento de Jesus Cristo. Foi essa a graça que teve aquela mulher samaritana que escutámos no Evangelho, de tal modo que a levou a afirmar: “Vejo que és profeta” (Jo 4,19).
Qual é a descoberta da mulher samaritana? Reconhece que não está a falar com um homem curioso sobre a sua vida, mas com um homem que sabe tudo sobre a vida dela. A mulher samaritana reconhece a autoridade de Jesus e está disposta a aprender e a ser esclarecida sobre o local onde se deve adorar a Deus.
Jesus dá àquela mulher um esclarecimento que traduz a sua própria experiência e constituiu um ensino: “já chegou a hora em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade” (Jo 4,23). Ou seja, não é o local que define a adoração é o espírito com que se está. E se é em espírito e verdade, então significa que a paternidade divina é reconhecida e a proposta da fraternidade cristã acontece.
Ao celebrarmos a Solenidade da Dedicação da nossa Catedral, consideremos a beleza da arte que nela existe como um apelo à beleza espiritual de cada cristão. As peças do património da catedral são obra de artistas especializados. Nós, porém, somos obra de Deus, sabendo que Deus não dispensa a nossa colaboração nos acabamentos e na manutenção, podendo nós contar com a sua graça. É isto mesmo que São Paulo lembra aos coríntios e também a nós: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16).
Irmãos e irmãs, no sábado 5 de outubro próximo faremos uma Assembleia jubilar Diocesana da parte da manhã e uma celebração da parte da tarde com a Imagem Peregrina de Nª Sª de Fátima. A partir desse dia, o programa do Jubileu do Cinquentenário intensifica-se progressivamente, não somente com a visita da Imagem de Nª Sª de Fátima a todas as Paróquias da Diocese, mas com as muitas propostas culturais, de conhecimento, formação e animação da Fé e da vida em missão, conferências, retiros, exposições, Festivais, concertos. Entre muitas propostas, está prevista uma Peregrinação Diocesana ao Santuário de Fátima (25 de maio) que inclui uma grande Assembleia Diocesana no Centro Paulo VI. Contamos com o envolvimento e o testemunho dos jovens na animação dessa Assembleia.
A Diocese de Setúbal é gémea com a Diocese de Santarém: nasceu no mesmo dia. Assim estão previstas visitas mútuas: da Diocese de Setúbal virá uma peregrinação à celebração do II Domingo da Páscoa no Santuário do Santíssimo Milagre e da Diocese de Santarém irá uma peregrinação ao Santuário de Cristo Rei no sábado 28 de junho.
Imagino que este tempo de graça pode também constituir uma oportunidade para lançar o convite aos cristãos afastados, a retomarem o dinamismo da fé em encontros com outros cristãos e a empenharem-se em boas causas de participação nas comunidades e em instituições sociais existentes nas diversas comunidades paroquiais da Diocese.
Desejamos que toda a programação proposta para o Cinquentenário seja motivo de proximidade e de júbilo e exprima o bem e a Paz que queremos para o mundo.
Na pessoa do Padre Joaquim Ganhão agradeço a todas pessoas da Comissão do Cinquentenário e da Comunidade Paroquial da Sé, que colaboraram e estão a colaborar na proposta do programa do Cinquentenário da Diocese. Desejo e espero que o programa proposto sirva para nos aproximar mais de Deus e uns dos outros. O sentido da indulgência a receber neste tempo na Catedral ou na Igreja de Santa Maria em Tomar, sob determinadas condições, supõem um progresso espiritual na alegria da vida e da missão.
Que as propostas de animação espiritual ajudem as pessoas a enfrentar dificuldades e isolamentos com o dom e alegria da fé cristã, fonte de felicidade. “Feliz és tu porque acreditaste” (Lc 1,45), foi o que escutou a Virgem Maria, nossa Padroeira, Senhora da Conceição.
Que o Rito da dedicação do altar nos lembre que também nós fomos consagrados pelo Batismo e ungidos para a missão com o santo óleo do Crisma.
+ José Traquina, Bispo de Santarém