Encerramento do Ano Santo Jubilar 2025
Sé de Santarém, 28-12-2025
Irmãos e irmãs
Em comunhão com o Santo Padre, Papa Leão XIV, e nele com toda a Igreja aqui estamos em plena Oitava do Natal, para celebrar a Festa litúrgica da Sagrada Família de Jesus, Maria e José e promovermos as orações próprias do Rito de Encerramento do Ano Santo Jubilar 2025.
O ambiente cultural que se desenvolveu na nossa sociedade, não privilegia o valor da Família. Cresceu o individualismo. Assim, um dos efeitos éa redução de nascimento de crianças. Porém, para pessoas de outras origens os filhos são a sua riqueza e a sua esperança e, por isso, temos em Portugal um ligeiro aumento de nascimento de crianças, graças às famílias de migrantes.
Ao abordarmos o tema da família algumas pessoas podem sentir incómodo porque não tiveram êxito na experiência matrimonial. É bom lembrar que Deus nos ama a todos e na Igreja somos a nova Família de Jesus.
Como acabámos de escutar, o tema ‘Família’ está presente nas leituras da Palavra de Deus deste Domingo. E faz sentido em contexto de Natal, pois o Menino nascido em Belém não teve lugar na hospedaria mas teve uma família à sua espera.
O Evangelho de S. Mateus (Mt 2,13-15.19-23) descreve-nos o testemunho da Sagrada Família de Nazaré que teve de fugir para o Egipto, por força da perseguição do rei Herodes. Ensinamentos:
Perante as adversidades, a Sagrada Família de Nazaré é levada a decisões imprevisíveis e a enfrentar dificuldades. Maria e José fizeram das suas vidas uma resposta generosa ao Projeto de Deus, procuram as adaptações necessárias a cada circunstância, e perante as dificuldades mantêm-se unidos e interessados em responder à vontade de Deus, seja qual for o drama da vida.
-A 1ª Leitura, tirada do Livro de Ben Sira, do Antigo Testamento é uma exortação à maneira de um bom aconselhamento para que os filhos honrem os seus pais. O velho sábio Ben Sira o que faz é exortar ao cumprimento do 4º Mandamento da Lei de Deus: Honrar pai e mãe.
Honrar, significa dar valor! Honrar o pai e a mãe é valorizar o que eles são!
Na perspetiva de Jesus, Novo Testamento, honrar pai e mãe não é apenas um dever social confirmado pelo 4º mandamento, é também a possibilidade de se tornar presente na terra o Reino de Deus. Isto é, o Reino de Deus torna-se presente no coração e na vida daqueles que se preocupam com o seu familiar idoso e doente.
Na 2ª Leitura de São Paulo aos Colossenses (3,12-21), o Apóstolo oferece-nos um conjunto deensinamentos que podem ser referência para quem quer ter bom ambiente em casa. O Apóstolo tem o objetivo de contribuir com os cuidados e prudências para que a Família seja uma comunidade de vida e de amor, onde seja possível o perdão e a festa. A família como espaço privilegiado para crescer na virtude, nos valores morais e espirituais, um espaço educativo onde todos têm a aprender e a crescer. Um espaço onde há amor e confiança.
Na origem da Igreja, atendendo à palavra de Jesus, os pastores da Igrejas concluíram que o Matrimónio é um sacramento, um grande sinal do Amor de Deus na Igreja e no mundo.
A felicidade e o bom crescimento de todos os membros da família depende do relacionamento que nela existe. Por isso, é de extrema importância que se promova a sinodalidade em família; a oração, a escuta mútua, a revisão de vida, a avaliação do caminho realizado e se proceda às retificações ou inovações necessárias.
Encerramento do Jubileu 2025
Agradeçamos a Deus o Ano Santo Jubilar. Entre nós, houve coincidência entre o Jubileu do Cinquentenário da criação da Diocese e o Jubileu do Ano Santo 2025. Porém, o apelo à peregrinação, à oração e à confissão estiveram presentes em número significativo de pessoas e também os jovens tiveram a sua peregrinação e celebração na Catedral presidida pelo Bispo da Diocese.
Não vamos esquecer o lema deste Ano Santo Jubilar: “A Esperança não engana”. Como escreveu o Papa Francisco na Bula de lançamento do Jubileu do Ano Santo (“Spes non confundit): “No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expetativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã”.
Para cultivarmos a esperança, o Papa convidou-nos a descobrirmos a virtude da paciência, lembrando o prejuízo quando não existe essa virtude:
“Habituamo-nos a querer tudo e agora, num mundo onde a pressa se tornou uma constante. Já não há tempo para nos encontrarmos e, com frequência, as próprias famílias sentem dificuldade para se reunir e falar calmamente. A paciência foi posta em fuga pela pressa, causando grave dano às pessoas; com efeito sobrevêm a intolerância, o nervosismo e, por vezes, a violência gratuita, gerando insatisfação e isolamento”.
O Ano Santo Jubilar foi oportunidade e pode continuar a dar frutos como apelo à qualidade da nossa vida de cristãos, individualmente e em comunidade, tendo presente que a vida espiritual reque cuidados para não perdermos o revigoramento da nossa vocação e missão. Para isso temos de estar confiantes, entusiasmados e convictos de que as nossas vidas se inscrevem num bem que Deus deseja para o mundo.
Mantenhamo-nos como peregrinos de esperança tendo “como que uma âncora segura e firme da alma”. Como escreveu o Papa Francisco: “A imagem da âncora é sugestiva para compreender a estabilidade e a segurança que possuímos no meio das águas agitadas da vida, se nos confiarmos ao Senhor Jesus. As tempestades nunca poderão prevalecer, porque estamos ancorados na esperança da graça, capaz de nos fazer viver em Cristo”.
Em Maria, Mãe de Jesus e de seus discípulos, temos o melhor testemunho da vida em esperança como uma graça que permanece.
+ José Traquina
📷 Rádio Maria