O Papa Leão XIV disse nesta sexta-feira 24 de outubro, no Vaticano que o processo sinodal que decorreu entre 2021 e 2024, a nível global, gerou “resistências e falta de compreensão” que exigem respostas, para evitar uma “rutura” na Igreja.
“Em vez de algumas pessoas correrem à frente e deixarem muitas outras para trás, o que poderia causar mesmo uma rutura na experiência eclesial, precisamos de procurar maneiras, por vezes muito concretas, de compreender o que está a acontecer em cada lugar, quais são as resistências ou de onde vêm, o que podemos fazer para incentivar cada vez mais a experiência de comunhão nesta Igreja, que é sinodal”, disse Leão XIV, na abertura do Jubileu das Equipas Sinodais, no Vaticano, que reúne mais de 2 mil pessoas, no Auditório Paulo VI.
A intervenção, em resposta a uma questão dos participantes que o acompanharam na mesa da presidência, alertou para a necessidade de uma formação sólida a “todos os níveis”, desde escolas e seminários até programas de formação de adultos, como condição para o caminho sinodal.
“Sem a formação adequada haverá resistências e falta de compreensão”, afirmou o pontífice, sublinhando que “nem todos correm à mesma velocidade” e que é preciso “ser pacientes uns com os outros”.
Leão XIV defendeu uma atenção às “realidades concretas” e indicou o exemplo dos Estados Unidos da América, onde “muitas estruturas já existentes têm grande potencial para serem sinodais”, convidando à construção de espaços mais “inclusivos”, com participação de leigos e clérigos, homens e mulheres, religiosos e religiosas.
Depois da sessão de abertura, o Papa chegou ao Auditório Paulo VI para um encontro-diálogo, com representantes de sete regiões eclesiais de todo o mundo, que apresentaram desafios sobre a implementação da sinodalidade,
Nas suas respostas, em inglês, espanhol e italiano, Leão XIV assumiu a necessidade de “crescimento” dos vários agrupamentos de Igrejas – das conferências episcopais nacionais às estruturas continentais – como expressão da comunhão e instrumento concreto de resposta aos desafios contemporâneos, incluindo as alterações climáticas
O documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo, publicado em 2024, apelava ao desenvolvimento da estrutura e competências das Conferências Episcopais, a nível nacional e continental.
“Espero e desejo que os diferentes agrupamentos de Igrejas possam continuar a crescer como expressões de comunhão na Igreja, utilizando os dons que todos nós recebemos através deste exercício, se assim se pode dizer, desta expressão, desta vida de sinodalidade”, indicou o Papa.
Diante de representantes de vários continentes, Leão XIV apontou a “missão” como palavra central do caminho sinodal e destacou o contributo das comunidades africanas, que “têm muito a oferecer”.
O Papa considerou “muito importante que a Igreja se aproxime das pessoas, dos jovens e das famílias, para ser um instrumento de construção da paz”.
“Temos de ser muito claros: não estamos à procura de um modelo uniforme, e a sinodalidade não virá com um modelo”, observou, precisando que se trata “de uma conversão a um espírito de ser Igreja, de ser missionário e de construir, nesse sentido, a família de Deus”.
Noutro ponto da conversa, Leão XIV afirmou que “se há um lugar no mundo que realmente precisa de sinais de esperança, é o Médio Oriente”, destacando o “dom do entusiasmo” e a fé dos cristãos da região e da diáspora como sinais “da presença do Espírito Santo”.
A intervenção elogiou a “força, a resistência e a coragem” daqueles que mantêm viva a fé “apesar de terem perdido tudo”, e apelou à unidade da Igreja “como autêntico sinal de esperança e expressão real da caridade cristã”.
Antigo missionário e bispo no Peru, o Papa agradeceu o testemunho da América Latina no caminho sinodal, reconhecendo “o dom da fé, o entusiasmo e o espírito de comunhão” que caracterizam as suas comunidades e “ensinam a seguir um caminho autenticamente sinodal”.
O Papa agradeceu às comunidades católicas na Ásia pelo esforço na sinodalidade, apesar dos desafios que enfrentam, elogiando o “sentido de mistério e de compreensão do divino” nas várias religiões que coexistem no continente.
A resposta sublinhou a importância do diálogo e da partilha de recursos para promover justiça e igualdade, dentro da Igreja Católica.
“As pessoas da Ásia podem oferecer muita esperança, e espero que todos juntos sejamos um sinal de esperança para a Igreja na Ásia”, concluiu, encerrando uma sessão de várias horas.
O Jubileu das Equipas Sinodais celebra-se até domingo, reunindo participantes dos cinco continentes para preparar a fase de implementação das orientações finais da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (2021-2024).
A delegação portuguesa inclui 27 representantes, entre membros da equipa sinodal da Conferência Episcopal e delegados de nove dioceses.
O Jubileu integra encontros, workshops, seminários e uma peregrinação pela Porta Santa, culminando com uma vigília mariana e a Missa presidida pelo Papa, este domingo, pelas 10h00 (menos uma em Lisboa), na Basílica de São Pedro.
Adaptado de Agência Ecclesia
📷Lusa/EPA