XXV  Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Homilia na Missa de Ordenação de dois novos Diáconos Permanentes: João Diogo e João Neves

Irmãos e irmãs

Caros ordinandos

A Palavra de Deus deste Domingo desafia-nos a cuidar da nossa identidade cristã em contexto global da sociedade em que vivemos. É bom rever e avaliar os critérios de verdade e de justiça, os nossos e os da sociedade em que vivemos, no que refere aos bens materiais e aos negócios.

Num tempo marcado por prosperidade económica, Séc. VIII antes de Cristo, no norte de Israel, o Profeta Amós (8,4-7) denuncia uma sociedade onde aumentavao poder de compra e o bem-estar social mas crescia o abismo entre ricos e pobres. O profeta denuncia a ambição egoísta e doentia dos comerciantes injustos que não respeitavam as pessoas pobres.

Antes como agora, como procedeu Amós, o dom da Fé deve levar-nos à leitura da sociedade considerando a santa e justa vontade de Deus acerca da pessoa humana. É necessário cultivar e defender os valores humanos necessários à edificação progressiva de uma sociedade justa e respeitadora de todas as pessoas, sabendo que uma sociedade não tem futuro brilhante com a prática da injustiça e da corrupção.

O problema não se resolve apenas com leis justas, isso é só uma parte da solução. São necessáriosempresários com bons princípios éticos, que sejam exigentes mas justos e valorizem todos a interessarem-se pelo bem comum e pela edificação de uma sociedade mais justa e em paz. Por sua vez, cabe aos governantes estabelecer critérios para que a sociedade progrida mais harmoniosamente relativamente aos rendimentos das pessoas e das famílias. Os dados estatísticos de que cerca 20% da população portuguesa são pessoas pobresou em risco de pobreza, é uma informação dos últimos anos que merece a atenção de quem governa mas também da própria sociedade.

No Evangelho (Lc 16,1-13) Jesus alerta como o dinheiro pode dominar a pessoa humana pela ambiçãoinsaciável de querer sempre mais, esquecendo-se ou desvalorizando outros valores fundamentais.

Na sua origem, o dinheiro surgiu para facilitar as relações económicas entre pessoas, tem o valor de representação do trabalho humano e pode estar ao serviço do bem comum. Porém, se uma pessoa se deixa corromper o resultado final não será justo. O amor ao próximo pode e deve ser critério de todo o gestor e empresário cristão; o progresso de uma empresa pode e deve passar pela exigência de qualidade do trabalho mas também pelo crescimento na habilitação e na recompensa de quem trabalha.

O Evangelho alerta-nos: o dinheiro tem a capacidade de viciar o homem e de lhe roubar a generosidade e a honestidade. Assim, lidar com os valores materiais exige vigilância e fidelidade. O mundo necessita de pessoas honestas e bem intencionadas para os pequenos ou grandes empreendimentos da vida: “Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes” (Lc 16,10).

A realidade também nos revela como a boa formação humana e a liberdade interior leva à sabedoria, à generosidade, ao gosto de ajudar outras pessoas a crescer e à alegria da partilha de bens. É esse o testemunho discreto de empresários generosos e também de muitos cristãos, na Igreja, através de instituições e grupos socio-caritativos. Nesta alegria da entreajuda, não fere a discrição informar o seguinte: a Cáritas Diocesana de Santarém, através das Cáritas paroquiais e outros grupos socio-caritativos das Paróquias da Diocese, no ano de 2024, apoiou 3.435 pessoas (adultos e crianças), dos quais 1.405 eram migrantes. Informar também que a ‘Renúncia quaresmal deste ano, no total de 25.323,03já foi endereçada para Timor para a missão das Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora (Congregação que também se encontram entre nós, na Chamusca).

 S. Paulo recomenda a Timóteo (2ª Leitura: 1ª Tim 2,1-18) que se reze pelos homens que na sociedade estão investidos de autoridade, pela responsabilidade social que assumem. Para que sejam justos e não se deixem corromper! São Paulo acredita e ensina que pela oração se cultiva a fidelidade aos verdadeiros valores. Deus quer que todos se salvem!

Caros ordinandos, João Diogo e João Neves, na história da Igreja consta o grande testemunho dos Diáconos, na fidelidade ao Evangelho, no uso da palavra no cuidado pelos bens materiais das comunidades onde se encontravam e pela atenção aos pobres. Sem dúvida, Jesus quer que os seus discípulos sejam esclarecidos, decididos e façam uma opção clara no seu seguimento; um discípulo que não seja desprendido e generoso, tem dificuldade em aguentar-se no seguimento Jesus.

Já pertenceis a Deus pelo Batismo mas a Ordenação que ides receber é uma graça do Espírito Santo para exercerdes o sagrado ministério do Diaconado em nome de Cristo e da sua Igreja. O que é pedido a todos os que recebem o Sacramento da Ordem para o exercício do respetivo ministério que lhe é confiado, é que sejam humildes, reconheçam que não é por mérito mas por escolha de Deus que nos chama a servi-Lo nas comunidades da sua Igreja. A todos é recomendado que a vida seja pautada pela oração, possibilidade permanente de alimentação e renovação dos nossos compromissos assumidos livremente, e  pela coerência, sinal da santidade que a Igreja deve ser para o mundo.

Deus continua a chamar na sua Igreja alguns homens para os ministérios de Diáconos, Presbíteros e Bispos. É a força da Fé que nos leva a dizer um sim a Jesus para sermos, em seu nome, mediadores do bem que Deus quer ao seu povo e mediadores para apresentarmos a Deus os problemas que conhecemos nas comunidades e no mundo.

O João Neves, é solteiro e assumirá o compromisso de celibato, um testemunho que interpela o tempo em que vivemos pois só ao ritmo do coração de Cristo, por causa do Reino dos Céus aqui e agora, se pode entender. O coração do celibatário não pode ser um coração vazio, mas cheio do Amor de Cristo para dedicar a muitas pessoas. O João Diogo é casado com a Alexandra que deu o seu consentimento na resposta do João a esta vocação. É um testemunho que reforça a beleza do vosso Matrimónio e a missão da família na vida da Igreja e da sociedade.

Nesta consciência, sois obra de Cristo. O vosso testemunho no ensino e na dedicação aos pobres e na família é indício de que a vossa vida já há muito se configurava com a missão dos Diáconos. Em tempos difíceis na Diocese, relativamente a vocações, o vosso testemunho é um sinal maior de Bênção em Ano do Cinquentenário da Diocese e do Jubileu da Esperança. “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fil 4,4). A alegria e o amor àqueles a quem somos enviados, cultivam-se na oração, no encontro pessoal com Cristo. Contai também com a intercessão de Nossa Senhora e de São José.

  ​​​​​​​​​+ José Traquina

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