Ordenações em Santarém – conhecer os futuros diáconos

Nesta edição do jornal diocesano Porta do Sol, poderá ler o testemunho dos dois futuros diáconos da nossa Diocese, João Neves e João Diogo.

Partilhamos aqui na íntegra, o testemunho de João Neves.

Quem sou eu?

Ora viva, eu sou o João Neves e nasci há 50 anos (em 1975), nos Foros de Salvaterra, concelho de Salvaterra de Magos. Os pais eram agricultores, ambos já faleceram, o meu pai quando eu tinha treze anos e a minha mãe há dez anos atrás.  Tenho uma irmã mais velha casada e com dois filhos, e um irmão mais novo também com dois filhos. Eu, o irmão do meio sou solteiro e muito feliz.

Aos seis anos fui para escola primária nos Foros e depois fiz o resto do escolaridade básica e secundária na escola de Salvaterra de Magos. Em 1993 ingressei na licenciatura em História, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC); em 2003-2006 fiz o mestrado em História da Idade Média, na vertente de Paleografia e Diplomática, na mesma faculdade. Desde de 1998 que comecei a lecionar História no 3º ciclo e secundário, tendo percorrido o país de norte a sul, passando por mais de vinte escolas. Atualmente sou quadro de escola no Agrupamento de Escolas de Salvaterra de Magos, onde leciono as disciplinas de História e História da Cultura das Artes no ensino secundário.

Em termos de envolvência local, integrei a direção de do Rancho Folclórico Regional dos Foros de Salvaterra e colaboro com algumas instituições na promoção do património e da história locais, tais como a Misericórdia de Salvaterra de Magos, a Câmara Municipal e Junta de Freguesia.

E na Igreja?

A minha família inicialmente tinha uma prática religiosa apenas de batismos, casamentos e funerais, foi com a morte do meu pai em 1988 que nos aproximamos mais da igreja e eu ingressei na catequese e completei os sacramentos da iniciação cristã, tendo sido crismado em 1991. Desta etapa da minha vida destaco os padres vicentinos, em especial o padre António Leitão e pelas catequistas Lurdes Naia e Nicha (Maria de Lurdes Gil). Durante este período comecei a ser leitor e acólito.

Em outubro de 1991 comecei a ajudar na catequese o sr. António Antunes e a Fátima Rosa. Neste ano pastoral, já como o padre Agostinho Sousa os Foros de Salvaterra passaram a ser paróquia. Nessa altura realizaram-se na jovem paróquia as missões populares vicentinas eu fui animador de uma comunidade familiar. Pouco depois chegaram as irmãs Helena e Isabel da Congregação do Santíssimo Salvador à nossa paróquia. Um grupo de seis jovens, entre os quais eu me encontrava, reuníamos todos os sábados à tarde na casa paroquial com as irmãs, e tínhamos formação e eu fiz uma verdadeira experiência de vida e envolvimento cristão, foi com elas que fizemos o nosso curso de iniciação de catequistas. No ano seguinte, cada um de nós: eu, o Vitor, a Rosário, a Vera, a Dora e a Mónica assumiu um grupo decatequese, e eu o Vitor tentamos criar um grupo de acólitos.

Em 1993 entrei na faculdade e mantive sempre a minha ligação à paróquia, sobretudo com a catequese. Entretanto, os anos foram passado participava em várias formações de catequistas a nível diocesano, nos retiros de catequistas, e em 1997 e 1998 eu fiz alguns módulos do Curso Geral de Catequistas em Santarém, com a irmã Maria Emília Carlos, do Secretariado Diocesano da Catequese. Por estes anos, na Zona Pastoral de Salvaterra de Magos funcionava o seminário dos Padres Vicentinos, e havia sempre encontros e formações de jovens e vocacionais nos quais eu fui participando.

Em 2001, o padre Agostinho saiu da zona pastoral e chegou o padre José Carlos Gonçalves, entre outros padres, como o padre Manuel Nóbrega, Gonçalo Reis, João Maria, João Sevivas, Fernando Soares, José Alves e João Soares que passaram pela zona pastoral de Salvaterra. Nesse ano também as irmãs do Santíssimo Salvador saíram da nossa paróquia e eu tive de assumir a coordenação da catequese e pouco depois também fiquei como secretário do conselho económico paroquial. Entretanto, foi necessário criar para coordenar as atividades paroquiais da zona pastoral um conselho vicarial, no qual não só representava os Foros, como também fui secretário e escolhido como representante da zona pastoral no conselho pastoral diocesano.

Em 2005, fui convidado pelo então assistente padre Vitor Alcobia e pelo diretor, hoje, o diácono Paulo Campino a integrar o Secretariado Diocesano da Catequese da Infância e Adolescência de Santarém (SDCIA-Santarém). Aceitei e desde então integro a equipa do SDCIA, onde conheci a Maria Irene Camoez, um exemplo e testemunho de vida cristã. Também ao serviço do SDCIA percorri a nossa diocese em encontros, cursos, formações ou retiros de catequistas e de catequizandos. Fui conhecendo os padres da nossa diocese e os catequistas que, de forma anónima e graciosa, tornam possível a catequese nas nossas paróquias.

E o diaconado?

Ainda na catequese, as catequistas e mais tarde as irmãs perguntaram-me se não queria fazer uma experiência vocacional, outras pessoas da paróquia diziam que eu deveria “ir para padre”. E nos encontros vocacionais promovidos pelos vicentinos na zona pastoral muitas vezes esse convite se repetia. Mas em todas essas vezes nunca senti que esse desafio fosse para mim, eu queria era fazer a minha faculdade e afirmar-me na minha profissão. Mais uns anos se passaram e ali por volta de 2010, o padre João Mariaabordou-me a propósito do diaconado permanente e se eu não estaria interessado em fazer um tempo de discernimento, pensei durante alguns dias sobre o assunto e respondi que não. Alguns anos depois, em 2020, o então diácono João Soares, hoje já padre, voltou a falar-me sobre o diaconado permanente e se eu não estaria interessado. Eu quase sem pensar lhe respondi que já tinha sido convidado e tinha respondido que não. O diácono João retribuiu com a pergunta “porque não?”, na altura fiquei sem saber o que responder e ele agendou um dia para falarmos. No dia agendado, o diácono João disse-me que já tinha falado com algumas pessoas da comunidade e eu parecia reunir as condições para um período de discernimento vocacional (adulto maduro na fé, inserido na comunidade, com estabilidade familiar e profissional), era o perfil de um cristão “normal” e que este discernimento não se destinava a nenhum “super cristão”. Nessa conversa, partilhou a sua experiência e que os aspirantes ao diaconado iriam discernir sobre o sentido cristão da vida eamadurecer o conceito de “vocação da vida cristã” nos seus diferentes estados: com o celibato ou o matrimónio. Fiquei mais uns dias a pensar na resposta ao “porque não?” e não encontrei argumentos e aquele “porque não”, deixou de ser uma questão e passou a ser um desafio. Sempre tinha pensado que isso não era para mim, que eu não tinha o perfil de “super cristão”. E fui rezando e lendo alguns textos bíblicos sobre a vocação, entre os quais deparei-me com o chamamento dos primeiros discípulos, homens normais, nos seus afazeres do dia-a-dia e, um desconhecido, o próprio Jesus desafia-os para algo novo e eles sem perceberem muito bem àquilo a que eram chamados,aceitaram e seguiram-no. As dúvidas continuavam por um lado, eu não percebia muito bem “porquê eu’”, mas por outro lado pessoas da minha comunidade achavam normal eu fazer este discernimento, será estariam enganadas? De alguma forma, o desafio lançado por Jesus aos primeiros discípulos, “vinde e vede” (Jo 1, 39), também senti que era para mim. E aquele “porque não?” deixou de ser uma pergunta e passa a ser um desafio que me é lançado, “porque não” fazer esse período discernimento. Assim, voltei a falar com diácono João Soares e com o padre Fernando Soares e aceitei este desafio, manifestei através do meu pároco essa intenção ao senhor Bispo, D. José Traquina.

Em 2020-2021, já como aspirante ao diaconado permanente, fiz o chamado ano propedêutico, onde partilhei as minhas dúvidas e incertezas com a equipa formadora, constituída pelo senhor Bispo, pelo padre José Abílio, pelo padre Arlindo e pelo diácono Paulo Campino, e com os outros aspirantes o João Diogo e o Nuno Caramelo. Nos encontros mensais, as minhas dúvidas eram partilhadas pelos outros aspirantes e ao mesmo tempo iam sendo esclarecidas as nossas incertezas e refletindo sobre o ministério do diácono. No fim desse ano, foi colocada questão se queríamos continuar neste caminho do diaconado, eu respondi que sim e fui admitido às ordens sacras.

Nos três anos letivos seguintes: 2021/2022, 2022/2023 e 2023/2024 eu e o João Diogo, rumamos quase todos os sábados para o Seminário dos Olivais e aí tivemos uma formação “académica” que integrou “harmonicamente as diversas dimensões formativas (humana, espiritual, teológica e pastoral), ser teologicamente bem fundamentado, ter uma finalidade pastoral específica e ser adaptado às necessidades e aos programas pastorais locais” ( Congregação para a Educação Cristã, Ratio fundamentalis institutionis diaconorum permanentium, n.º55). Entre os formadores relembro o então reitor do seminário, o cónego José Miguel Pereira, hoje bispo da Guarda; o cónego Nuno Isidro, hoje bispo auxiliar de Lisboa; ou ainda os padres Nuno Amador, Lino Lourenço, David Palatino, Carlos Gonçalves, Pedro Lourenço, entre outros, e os diáconos Duarte João e Laurentino da equipa formadora de Lisboa. Por fim uma palavra de apreço aos candidatos ao diaconado permanente da diocese de Lisboa, com os quais convivemos entre as aulas, partilhamos experiências, alegrias e tristezas, formámos uma verdadeira comunidade de discípulos; mais do que “colegas de curso” somos irmãos de jornada. Foram três anos de grande crescimento pessoal, de aprofundamento teológico, doutrinal, de pastoral, de moral, de estudos bíblicos, de sacramentos e liturgia; exigentes com alguns exames, com a apresentação e defesa de trabalhos. Essa formação foi acompanhada pela descoberta sistemática e diária da Liturgia das Horas, bem como com a proposta de retirosespiritais. A equipa diocesana, particularmente o senhor Bispo acompanhou a nossa evolução ao longo destes três anos, nos quaisfui instituído leitor e acólito.

No último ano, 2024/2025, o chamado ano pastoral, o meu pároco, o padre José Luís Borga e também o padre João Borga têm-me acompanhado na realidade pastoral da zona de Salvaterra de Magos, começando logo, em outubro, com a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima a todas as paróquias, nosmeses seguintes fui-me inteirando da realidade pastoral das nossasparóquias.

No fim deste percurso de cinco anos pedi ao senhor Bispo para ser admitido à ordem dos diáconos, que espero que venha a acontecer em 21 de setembro de 2025, na sé de Santarém. Esta ordenação para mim é a resposta ao “porque não?”. Hoje é um “porque sim”, estou ao serviço desta Igreja que acredito que seja sacramento de Deus entre os homens, à qual eu pertenço, da qual dou testemunho e com a minha vida ajudo a construir. Para a nossa ordenação, eu o João Diogo escolhemos como lema “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5), tal como Maria deixou este conselho aos serventes no casamento da boda de Caná da Galileia, hoje este conselho é para nós, e, para mim especificamente que aceito assim ser ordenado com vista o ministério do serviço a que sou chamado na Igreja Diocesana. Na qual, espero na especificidade da diaconia ministerial, conforme o n.º 9 Ratio fundamentalis institutionis diaconorum permanentium, exercer os munus docendi (proclamar a Escritura e a instruir e exortar o povo), munus santificandi ( na oração, na administração solene do baptismo, na conservação e distribuição da Eucaristia, na assistência e bênção do matrimónio, na presidência ao rito do funeral e da sepultura e na administração dos sacramentais) munus regendi (na dedicação às obras de caridade e de assistência e na animação de comunidades ou sectores da vida eclesial).

Concluo este testemunho com a oração conclusiva do Directóriodo Ministério e da Vida dos Diáconos Permanentes, dirigida Maria Santíssima:

MARIA,

Mestra de fé, que com a tua obediência à Palavra de Deus colaboraste de maneira exímia na obra da Redenção, torna frutuoso o ministério dos diáconos, ensinando-lhes a ouvir e a anunciar com fé a Palavra.

MARIA,

Mestra de caridade, que com a tua plena disponibilidade ao apelo de Deus cooperaste no nascimento dos fiéis na Igreja, torna fecundos o ministério e a vida dos diáconos, ensinando-lhes a se doar no serviço do Povo de Deus.

MARIA,

Mestra de oração, que com a tua materna intercessão, sustentaste e ajudaste a Igreja nascente, torna os diáconos sempre atentos às necessidades dos fiéis, ensinando-lhes a descobrir o valor da oração.

MARIA,

Mestre de humildade, que no teu profundo reconhecimento de ser a Serva do Senhor foste repleta do Espírito Santo, torna os diáconos dóceis instrumentos da redenção de Cristo, ensinando-lhes a grandeza que consiste em se fazer pequenos.

MARIA,

Mestra do serviço escondido, que com a tua vida normal e ordinária plena de amor, soubeste colaborar de maneira exemplar no plano salvífico de Deus, torna os diáconos servos bons e fiéis, ensinando-lhes a alegria de servir, na Igreja, com ardente amor.
Ámen.

Fotografia: João Neves, com o pároco Pe. José Luís Borga

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