Cáritas – Amor que transforma

As guerras e conflitos em diversos países, os milhares de migrantes em busca de melhor vida, as famílias sem rendimentos suficientes, os pobres sem abrigo, as instituições sociais em permanente preocupação pela sua viabilidade, a instabilidade social política. É a realidade preocupante que nos desafia a todos.

A ‘Semana Cáritas’ é uma oportunidade para valorizar e partilhar o dom que nos move na atenção à realidade humana no contexto de um tempo aconselhado para a revisão de vida e de caminho para a Páscoa. O Amor-Cáritas é o dinamismo espiritual que nos faz sair de nós mesmos e interessarmo-nos pelos nossos semelhantes. É Jesus quem nos instrui nessa preocupação de Deus pelas pessoas mais pobres e pelo mundo em que vivemos.

Há dois mil anos, no ambiente humano que Jesus conheceu, muitas pessoas não eram valorizadas nem defendidas pelos poderes político e religioso. Eram pobres de tudo. Pois foi a essas pessoas pobres, doentes e aprisionadas pela força do mal que Jesus se dedicou, libertou e ajudou a crescer, revelando-lhes que Deus as amava e as queria para o seu Reino. Os seus discípulos acompanhavam-no numa permanente vida itinerante, e foram observando com alegria e admiração o êxito do seu Mestre. Com curiosidade também verificaram que Jesus não dispensava momentos de refúgio para a oração. Como escreveu o Papa Francisco na sua mensagem para a Quaresma: “É tempo de agir e agir é também parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o bom Samaritano em presença do irmão ferido. O amor de Deus e o do próximo formam um único amor”.

O Amor-Cáritas não é uma filantropia. É o amor que brota de Deus e transforma a pessoa humana iluminando-a com a graça de poder olhar a todos a partir do coração de Deus. Porque a capacidade natural do amor enfraquece pela fragilidade humana, devemos aproveitar o tempo que nos é oferecido para renovar a nossa identidade e missão com a graça do Amor-Cáritas, dom de Cristo Pascal.

Cáritas – Amor violento

Para muitos, a caridade é a bondade humana em ação, marcada pela compaixão e cuidado pelos outros. Não é mau mas é insuficiente e pode deixar-nos a ideia de que resolvo a minha identidade cristã com uma atitude generosa e particular.

Jesus elogiou a energia de João Batista e acrescentou: “o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11, 12). O Reino de Amor e de Paz a que Jesus nos convida a pertencer exige a ‘violência’ da coragem para superar o medo e aconteça conversão. É necessário acreditar no projeto de Jesus com a graça e a força da sua paixão. “O objectivo do movimento histórico inaugurado pela vida, morte e ressurreição de Cristo não se limita a uma sociedade justa, mas a muito mais que isso, a uma sociedade fraterna em sentido pleno, pois que só assim é possível descobrir a plena adesão à fé cristã” (René Coste, in O Amor que transforma o mundo, 2a edição, 2011, Cáritas Editora, pág. 186).

O Amor – Cáritas é um fogo permanente em que os gestos e as dádivas são sinais dessa mesma realidade invisível que nos anima e impele a agir identificados com Jesus. Com Ele aprendemos que a adoração ao Pai deve corresponder ao cuidado pelos nossos semelhantes.
Como escreveu o Papa Francisco: “A nossa resposta de amor não deve ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados, o que poderia constituir uma «caridade por receita», uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência.

A proposta é o Reino de Deus (cf. Lc 4, 43); trata-se de amar a Deus, que reina no mundo. Na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos. Por isso, tanto o anúncio como a experiência cristã tendem a provocar consequências sociais. Procuremos o seu Reino: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo» (Mt 6, 33)” (Evangelii Gaudium 180).

Cáritas – Amor em ação organizada

A ‘Semana Cáritas’ é também uma oportunidade para valorizar e agradecer o testemunho de todos os que trabalham como voluntários e/ou profissionais na rede Cáritas em Portugal. Ainda que de forma discreta, o vosso trabalho e dedicação realizam parte da missão da Igreja na ação social. A par do serviço da Evangelização e da celebração dos Sacramentos, também a prática da Caridade faz parte da essência e missão da Igreja desde a sua origem (cf. Deus Caritas Est 32).
Aos membros dos órgãos diretivos de todas as instituições da rede Cáritas, manifesto o reconhecimento pelo trabalho de governação e dedicação. É uma missão da Igreja onde, ao longo do tempo, cristãos leigos tem dado um grande testemunho. Porque aconteceram mudanças nos órgãos sociais em várias Cáritas Diocesanas no passado recente, a minha palavra de gratidão é extensiva a todos. O desafio continua para a Rede Cáritas não apenas nas respostas prevista nos projetos e no que emerge, como também no conhecimento e reflexão sobre a realidade social sempre em mutação.
Finalmente saúdo e agradeço a todas pessoas de boa vontade que colaboram com a rede Cáritas com algum apoio ou donativo, permitindo assim a promoção do bem comum e da solidariedade.

A Virgem Maria, Mãe da Reconciliação, nos guie no Caminho do Amor-Cáritas que transforma e alimenta a esperança.

+ José Traquina

Bispo de Santarém e Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana

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