I – Descrição do processo de recolha de informação

A Diocese de Santarém tem um total de 113 Paróquias, distribuídas por 7 Vigararias, contando atualmente com a presença de 17 Institutos de Vida Consagrada e 28 Movimentos Laicais.

Esta síntese diocesana conta com os contributos de 54 paróquias, que envolveram inclusivamente pessoas com pertença a Movimentos Laicais ou a Institutos de Vida Consagrada e que optaram pela organização interna existente nas paróquias, a partir dos ministérios ou grupos existentes. Consta aqui a síntese de 4 Movimentos Laicais (Cursilhos de Cristandade; Comunidades de Vida Cristã – CVX; Liga Operária Católica – LOC e Centros de Preparação para o Matrimónio – CPM), que não estão integrados nas estruturas paroquiais, mas com presença ativa na Diocese, e que desenvolveram uma dinâmica própria, aproveitando as reuniões mensais para fazerem o processo sinodal. E ainda o contributo de 1 grupo de diáconos da diocese, que se reuniu mensalmente para este efeito.

Após a nomeação da equipa diocesana, em setembro de 2021, foi iniciado o processo sinodal a partir da constituição de equipas por vigararias: Alcanena, Almeirim, Entroncamento; Rio Maior, Santarém, Torres Novas e Tomar, abrangendo assim a rede de paróquias da Diocese. As equipas, diocesana e vicariais, reuniram-se com regularidade para avaliarem as etapas e aferir o desenvolvimento do processo.

A equipa diocesana preparou e divulgou a documentação do sínodo na página web da diocese, material de apoio aos grupos de reflexão, nomeadamente um Guião sobre a Metodologia proposta para as reuniões e um Guião para a elaboração das sínteses dos encontros temáticos (ANEXO). Este último foi a base para a recolha da informação do processo sinodal.  Conforme os temas propostos no Vademecum foram elaborados módulos temáticos (num total de 6 temas, compreendendo cada um quatro grandes etapas:  1) Oração pelo Sínodo; 2) Palavra de Deus; 3) Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão (textos sobre sinodalidade) e 4) Temática a aprofundar (as questões propostas pelo Vademecum). Estes materiais de apoio foram distribuídos eletronicamente por todas as Paróquias, Secretariados Diocesanos, Institutos Religiosos, Movimentos Laicais, que por sua vez, desenvolveram a sua própria organização interna e o seu próprio ritmo, multiplicando os materiais conforme a necessidade.

Algumas vigararias optaram por divulgar o processo sinodal a partir de encontros abertos de vigararia, ou a partir da imprensa local ou Facebook. Teve particular importância na divulgação do processo sinodal o envolvimento dos párocos no convite expresso à participação e na ajuda à organização dos grupos. A larga maioria dos encontros foi presencial, com pequenas exceções, em particular entre os movimentos que utilizaram plataformas digitais.

As sínteses vicariais são unânimes na observação de que, onde não houve interesse e envolvimento dos párocos, as comunidades tiveram pouca ou nenhuma informação sobre o sínodo e os cristãos que não estão enquadrados por outros grupos ou movimentos não se organizaram nas suas comunidades espontaneamente.

Contudo, na generalidade das paróquias, as pessoas que participaram no processo sinodal fizeram-no por convite dos seus párocos, efetuado nas Missas ou em reuniões promovidas para esse efeito, sempre com a salvaguarda de que este processo era extensivo a todos os batizados, independentemente do seu atual comprometimento com a Igreja.

Das dificuldades físicas mais assinaladas foram o facto de o processo ter sido desenvolvido num ambiente ainda de apreensão em relação à Pandemia, que impediu que se mantivesse um ritmo de encontros, e ter decorrido entre os dois tempos litúrgicos mais importantes (Natal e Páscoa), que absorve grande parte da energia e disponibilidade dos membros das diversas comunidades. 

II – Apresentação dos resultados

O processo sinodal, na fase diocesana, apresentou-se como uma iniciativa inédita no sentido da escuta conjunta do Espírito Santo e da escuta fraterna que a metodologia proposta possibilitou no seio das comunidades cristãs. 

Constatamos que as questões que receberam maior atenção e debate neste processo podem reconduzir-se a três problemáticas ou núcleos temáticos:

1 – Escutar e tomar a palavra

Como escutamos, e o que é escutar? Quem escuta e quem nos escuta, quais as maiores dificuldades à escuta, e quem verdadeiramente escutamos e quem deixamos de fora da nossa escuta?

Falar é um ato de coragem e de humildade, mas sempre condicionado por aqueles que nos escutam e pelas estruturas eclesiais que podem facilitar ou inibir, quando não mesmo interditar este ato de liberdade e participação, que é tomar a palavra.

2 – Liderar e decidir

O exercício de autoridade e de governo da Igreja não necessitará de uma revisão profunda que permita ser expressão da Igreja, povo de Deus e da comunhão entre os ministérios ordenados e o laicado? O processo decisional em Igreja reflete em muitas circunstâncias a dimensão sinodal. Ao mesmo tempo, observam-se grandes fragilidades e apontam-se caminhos de aperfeiçoamento de modo que as decisões em Igreja resultem de uma verdadeira e reforçada participação de todos e não sejam apenas resultado da autoridade hierárquica.

3 – Celebração da fé

Reconhecida unanimemente como dimensão essencial da vida da Igreja, que alimenta a fé e inspira a vida e as suas decisões, a celebração da fé mereceu grande atenção dos participantes, tendo-se observado uma maior concentração do debate em torno da Eucaristia. Nesta temática surgem reflexões diferenciadas e mesmo opostas que apontam caminhos de renovação e de melhorias com o mesmo objectivo:  que a celebração da fé reacenda no coração dos fiéis o amor e a presença trinitária de Deus.

 TENSÕES E DISCORDÂNCIAS

Podemos concluir que a consulta sinodal conduziu a largos consensos sobre as questões propostas, não originando significativas discórdias entre os participantes. No entanto, da interpretação dos resultados e contributos deste processo sinodal, podemos assinalar uma divergência de fundo quanto à recetividade da proposta sinodal. O silêncio e a ausência de participação de comunidades, movimentos, institutos religiosos e párocos nesta caminhada sinodal parece poder interpretar-se como resistência, ou pelo menos como indiferença e alheamento face à dimensão universal da Igreja. Pode também ser expressão de uma cultura de não participação, amplamente enraizada na sociedade e na Igreja. 

Na dimensão da celebração da fé, podemos registar duas perspetivas diferentes. Notamos um conjunto de partilhas que apontam para o excesso da forma, a linguagem indecifrável, a distância entre a vida e a celebração da fé. «Há uma parte da Igreja de hoje que parece estar muito mais preocupada com a forma e pouco preocupada com o conteúdo. É importante que o discurso, a linguagem, transmita algo que tenha significado para a vidas das pessoas». E lemos ainda neste sentido, «que a Missa possa ser adaptada aos jovens, com uma maior intervenção da sua parte e cânticos adaptados às suas idades». Esta mesma preocupação com os jovens relativamente à linguagem litúrgica está presente noutra reflexão: «os ritos devem ser adequados à forma de viver da sociedade atual (…) para que, em particular os jovens compreendam as celebrações». 

Em sentido diverso, outro conjunto de reflexões, reconhecendo que atravessamos um tempo de «pouca compreensão dos ritos, sinais e símbolos litúrgicos» em que «muitas vezes as pessoas estão presentes mas não percebem nem interiorizam o que escutam», defende  a preparação e a formação quando se afirma que «a catequese litúrgica é uma necessidade urgente» e que «é necessário um maior cuidado dos sacerdotes numa catequese explicativa do sentido dos diferentes momentos da Eucaristia» devendo as paróquias «organizar com seriedade a preparação dos leigos para os diferentes serviços».

Se na primeira perspetiva se sublinha a necessidade de mudança, adaptação, atualização dos ritos e da linguagem, na segunda perspetiva acentua-se antes a necessidade de preparação e formação litúrgica dos leigos.

 PONTOS DE VISTA QUE MERECEM MAIOR DESTAQUE

 1 – Escutar e tomar a palavra

Vivemos tempos marcados por «constante ruído e desinformação, assimilando muitas vezes apenas o imediato, protelando e até ignorando a necessidade de pensar sobre questões mais profundas». «Escutamos pouco. Temos dificuldade de nos dispormos à escuta, de ouvir até ao fim, de darmos tempo ao outro para manifestar as suas ideias». Não será por isso exagero afirmar que existe «um grande défice na escuta, motivado particularmente, pelos preconceitos, a falta de paciência para o outro, pelo medo de se envolver, de se sentir reconhecido ou, pela falta de esforço para compreender e/ ou estar com os outros».

Há portanto que empreender e desenvolver uma verdadeira dinâmica de escuta em Igreja traduzida  «na abertura a Deus  (no silêncio e oração) e de coração ao outro (no acolhimento e na capacidade de  o ouvir)» pois  «um dos principais problemas da Igreja é a incapacidade de se  efetuar uma escuta ativa, orante, uma escuta que seja orientada pelo Espírito Santo e que leve à inclusão e compaixão»,  pois «as pessoas em situação de fragilidade social têm pouco espaço e oportunidade para serem escutadas» e todos devemos reconhecer a «importância  de escutar  as vozes diferentes da nossa, que nos confrontam, desinstalam e alargam a nossa  compreensão do mundo». Por outro lado, foi também lembrado que podemos encontrar na vida da Igreja muitas iniciativas de escuta e acolhimento aos que estão na periferia, como é «o caso dos migrantes, ou das pessoas em situação de pobreza ou exclusão social ainda que seja necessário aprofundar a escuta a estes irmãos e não ficarmos fechados e acomodados em nós mesmos». 

Em direta correlação com a dimensão da escuta, encontra-se a disponibilidade e capacidade para tomar a palavra no seio da comunidade cristã.  Fundamental para o exercício deste modo de participação e construção da Igreja parece ser a existência de estruturas na comunidade cristã em que se promova o convite a manifestar a opinião, como no caso de assembleias paroquiais ou no Conselho Pastoral Paroquial, órgão por excelência de sinodalidade e de partilha da palavra. No entanto, neste aspeto em análise observam-se mais as dificuldades do que as oportunidades geradas para o exercício da palavra na Igreja. Terão razão aqueles que assinalam na Igreja «não existir um clima de abertura e capacidade de ouvir tudo, subsistindo um ambiente de sindicância do outro, de desconfiança e de um dogmatismo inseguro que procura ocultar fragilidades»? Poderá ser uma real dificuldade o monopólio da Palavra exercido na Igreja local pela autoridade hierárquica, o Bispo e os presbíteros, como reconhecem quase todos os participantes?

Seja como for, «não é fácil tomar a palavra no espaço eclesial. Este Sínodo é uma oportunidade rara. Ainda existe um desnível acentuado entre o clero e os leigos, e poucas condições efetivas para o diálogo e participação». 

Ainda nesta dimensão do falar em Igreja, apontam-se alguns outros obstáculos como «a falta de oportunidade e locais de encontro onde se possam expressar as opiniões, a falta de formação religiosa» para falar com confiança e coragem e referem-se também as condições necessárias para um efetivo e eclesial ‘tomar a palavra’: «o discurso deve ser sereno e corajoso e articulado com tempo de escuta. Claro que também é importante não fomentar conflitos, intrigas e mal-entendidos». Por fim, é digno de nota o apelo feito ao reforço dos meios digitais na comunicação da Igreja, «complementado com uma presença de qualidade, nos meios de comunicação social locais, regionais e nacionais».

2- Exclusão/Inclusão

No Vademecum publicado como guia do processo sinodal, indica-se que este processo se concretiza «escutando juntos a Palavra de Deus na Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja e, depois, escutando-nos uns aos outros e especialmente aos que estão à margem, discernindo os sinais dos tempos».

Esta citação faz-nos reconhecer uma das grandes fragilidades do processo sinodal na nossa diocese: «escutar as minorias, as margens, os excluídos/afastados». Se por um lado se reconhece a presença de um discurso que motiva  e encoraja para  uma Igreja em saída,  uma «Igreja  que deve  sair do seu ‘casulo’… de  deixar de viver ad intra e, com a presença dos fiéis e do clero, inserir-se  nos diferentes contextos sociais, religiosos, culturais, etc… de cada localidade , tornando-se  Igreja ad extra»,  por outro reconhece-se a ineficácia e a falta  de profundidade nessa atitude: «Não se escutam as periferias, ou ouvem-se com algum alheamento, registam-se, mas não têm eco, porque para se ouvir com atenção e discernimento é preciso lá estar, sentir e perceber que o outro é um ser igual a nós».

Ora, nesta mesma ordem de ideias, é importante afirmar que na fase diocesana do sínodo se registou uma adesão pouco significativa à proposta da equipa sinodal do tema ‘A Igreja em Diálogo’, dirigido à consulta dos batizados que não participam habitualmente na vida eclesial. Por esta razão, a síntese diocesana é expressão, mais uma vez, de um processo de escuta ‘ad intra’, não cumprindo a ambição do objetivo deste sínodo, referido no texto acima citado. No entanto, parece-nos relevante partilhar algumas observações relativas à situação de exclusão na vida interna da Igreja.

a)  A autoexclusão

Alguns participantes observam que muitos dos fiéis cristãos se autoexcluem da vida comunitária porque acham que «não têm um papel importante na vida da comunidade» ou, por comodidade, assumem o papel de ‘espectadores’.

«Outros, também, deixam de caminhar na Igreja, levados pelo individualismo da sociedade, por não se sentirem acolhidos, por verem conflitos e desunião no seu seio, que cada vez mais dá resposta ao que não é pedido, esquecendo a realidade concreta.» 

b) As minorias

«Verifica-se na Igreja a dificuldade de integrar e fazer caminho com os outros, particularmente com as pessoas portadoras de deficiência, os mais pobres, os divorciados, aqueles que vivem em união de facto, os estrangeiros», mas também com os jovens, «havendo grande dificuldade em integrar, cativar e proporcionar oportunidades aos jovens para mostrarem as suas capacidades e vontade na igreja».

Ainda a respeito dos jovens crismados se recorda a dificuldade destes em encontrar «enquadramento nas Paróquias pois estas não têm estruturas organizadas para darem seguimento ao aprofundamento da fé» e quando «deixam a sua cidade para irem estudar para fora não encontram nas novas localidades acolhimento na Paróquia».

Também percecionadas como excluídas pela Igreja, são as pessoas homossexuais que «são pouco ou nada escutadas» «sendo terrível pensar que estas pessoas não têm lugar na Igreja porque são homossexuais».

c) Mulheres

A grande maioria da Igreja, as mulheres «não têm a importância que deviam ter na Igreja» nem o papel relevante que lhes deveria ser reconhecido. Assim, «a exclusão destas de certos ministérios, nomeadamente do diaconado é, face aos tempos de hoje, algo largamente incompreensível, não apenas por razões pragmáticas», mas também pelo simbolismo desta exclusão que expressa «haver um tratamento assimétrico em função do género que pouco traduz o espírito de igualdade que deve pautar a conduta dos cristãos e das suas instituições».

3 – Liderar e Decidir

“Para uma igreja sinodal” é o lema que sintetiza a finalidade do Sínodo dos Bispos no qual se integra esta fase diocesana de auscultação do Povo de Deus. Quase a totalidade dos contributos recebidos para a redação da síntese final diocesana  aponta a existência  dos Conselhos Paroquiais nas comunidades como  elemento essencial e imprescindível da sinodalidade  da Igreja, com particular destaque para o Conselho Pastoral, «instrumento de comunhão eclesial, de convergência dos objetivos  evangelizadores e lugar para estabelecer uma conexão e diálogo pastoral profícuo» e para  gerar «dinâmicas que mobilizem  a comunidade para  a sua participação na vida da Igreja e da própria comunidade».

Órgão de escuta e de diálogo, instância de discernimento e de participação dos leigos nas decisões, o Conselho Pastoral revela-se como contraponto à visão também partilhada de que a vida da Igreja é ainda muito clerical, marcada por um paradigma de autoridade de tipo piramidal onde «o Bispo e os padres têm sempre a última palavra e por vezes a única».  «Salvo raras exceções não são atribuídas aos leigos sérias responsabilidades. Na melhor das hipóteses, são-lhe pedidas tarefas», a sua participação «é essencialmente para fazer coisas, não para pensar, planear».

Por esta razão, alerta-se para o risco de se  desvalorizar ou  “descontinuar” o Conselho Pastoral e outras estruturas de participação ou para “desfigurar” o seu funcionamento, prevalecendo sempre a opinião/sugestão do sacerdote, neste órgão colegial, pondo assim em causa «um integral  trabalho de equipa, pois nem todos têm o mesmo grau de intervenção ou de responsabilidade e por isso  surgem questões  sobre a democracia das decisões, sobre a divergência de opiniões e até situações  de pertença».

Merece ainda referência nesta temática a partilha feita pelos movimentos e a experiência no modo como vivem e organizam a autoridade /liderança e a participação dos vários elementos nas decisões dos respetivos movimentos. Referindo-se ao trabalho em equipa e à corresponsabilidade, a LOC lembra que no interior do movimento, estas dimensões se vivem «ouvindo-nos, respeitando sensibilidades e envolvendo todos no compromisso e na discussão que nos estimula a dar testemunho na comunidade, na vida concreta, nos ambientes, nas estruturas e nas organizações sociais e culturais».

E o movimento CVX partilha que «o processo de eleição das equipas de serviço passa por um processo de discernimento comunitário» e acrescentam: «não temos conhecimento e experiência que ao nível das nossas paróquias seja feito discernimento comunitário para a escolha das prioridades missionárias».

Concluindo, o Sínodo é uma oportunidade de «conversão que deve operar por forma a criar uma maior democraticidade e participação ativa dos leigos e consagrados na vida das comunidades».

4 – Celebração da Fé

A celebração da fé em comunidade é «estruturante e estrutural» porque nela se «une e fortalece a assembleia, permitindo que todos se sintam irmãos entre si» e é alimento da vida interior, inspirando e orientando os fiéis na tomada das suas decisões. Celebrar é fazer memória, pois «se não ouvirmos e vermos (como Tomé) deixamo-nos cair no esquecimento». 

A Eucaristia é para a maioria dos participantes, o sacramento axial da vida cristã, a nível pessoal e a nível comunitário, reafirmando-se ser este sacramento Fonte e cume da vida da Igreja e particularmente da sua missão: «toda a evangelização «parte da Eucaristia e converge para a Eucaristia».

Os ministérios laicais litúrgicos são, em especial na celebração eucarística, um serviço de grande relevância pela vida, beleza e dignidade que trazem à liturgia da Igreja. «Os cantores pela alegria e mensagens que transmitem são uma boa forma de louvar a Deus e de envolver a comunidade e os leitores que leem de forma expressiva, valorizam muito a mensagem» . No entanto, regista-se que em algumas comunidades se verifica uma diminuição dos cantores e um certo empobrecimento quanto à qualidade do canto nas celebrações comunitárias.

Apontam-se ainda, quanto aos restantes sacramentos, a necessidade da redescoberta do seu significado, pois «assiste-se a uma procura dos sacramentos do Batismo, Crisma e Casamento como atos sociais, muitas vezes esvaziados do seu real significado. Por oposição, o sacramento da Reconciliação (confissão) encontra-se muito desvalorizado e ostracizado, não sendo entendido pelos cristãos como algo necessário à sua conversão interior e auxílio ao seu crescimento na Fé».

Um outro aspeto partilhado nesta matéria prende-se com o cuidado e a preparação das celebrações comunitárias: «cuidar da beleza dos espaços, da escolha dos leitores, da qualidade da música, não esquecendo o conforto e a facilidade de acesso ao espaço litúrgico, pois «uma parte muito significativa dos fiéis são pessoas idosas».

E nesta tarefa de preparação litúrgica considerou-se importante «incentivar e proporcionar a participação dos leigos, grupos e movimentos da Igreja na dinamização da vida da Igreja local (…) o que deverá incluir a participação na organização e planeamento das celebrações».

Por último, merece destaque a referência à homilia que deve transmitir «a mensagem de Cristo de uma forma clara, de forma que os fiéis percebam e levem ensinamentos para a sua vida» não sendo de excluir, neste espaço de palavra que é a homilia, alguns testemunhos de leigos ou religiosos.

Sugere-se ainda que as homilias sejam «mais curtas e bem preparadas, com significado para as pessoas» pois com frequência «as homilias não são atrativas, particularmente para os jovens e as crianças».

5 – Acompanhamento e formação

A necessidade de formação dos leigos e do clero em vista a um exercício das suas responsabilidades na Igreja foi um ponto de vista amplamente partilhado neste processo sinodal. Reconhecendo existir falta de disponibilidade do clero e dos leigos para a formação, apela-se a uma conversão nesta dimensão da vida da Igreja: «Reconhecemos, no entanto, que não conhecemos a fundo a profundidade da Igreja, e que falta esse maior envolvimento dos leigos, no estudo e no apostolado. Ninguém dá o que não tem, e não podemos anunciar e caminhar se não tivermos nada ou pouco para oferecer» . Importa, portanto, «capacitar os leigos, envolvendo-os, dando-lhes formação e enviando-os em Missão».

Se a grande parte dos contributos destacam a necessidade de formação litúrgica, bíblica e catequética, outros referem ainda a necessidade de formação na área das relações humanas e da dinâmica de grupos, pois «as pessoas não têm desenvolvidas muitas capacidades de debater ou tratar de assuntos umas com as outras. Ora isto também se aprende e levaria a quebrar muitas barreiras tornando as pessoas mais capazes de trabalhar com mais alegria e motivação, em conjunto». 

Mas se a formação é uma etapa fundamental da caminhada cristã, também se recorda a necessidade do acompanhamento como dinâmica complementar e garantia da fecundidade da formação, pois «há experiências intensas que se podem esvaziar e fragilizar pela ausência de acompanhamento».

6 – Igreja e Sociedade

“Caminhar juntos” não é apenas uma proposta para a vida interna da Igreja, mas exige a tomada de consciência de que, para exercer a sua missão, a Igreja deverá ser sempre companheira de viagem da sociedade nas mais diversas dimensões. Igreja e sociedade «têm que procurar e apostar em soluções de paz, para dar uma oportunidade à vida, proporcionando iguais oportunidades para todos, lutando pela justiça contra as desigualdades sociais, económicas, políticas, de gênero, raça, culturais e de acesso à educação.», apoiando os mais desamparados e desconstruindo a ideia do mal como fatalidade inelutável.

O mundo de hoje, marcado pelo individualismo e indiferença, mundo consumista e triste, constitui um desafio de missão para a Igreja que deverá «aproximar-se, pôr-se a caminho e interessar-se pelo que vai no coração dos outros, pelas suas necessidades e inquietações, tendo presente que não caminhamos todos da mesma forma».

7- Ministério Presbiteral

A partilha mais consensual entre os vários contributos recebidos acerca do ministério presbiteral é a constatação da falta de padres, do pouco tempo de que dispõem e de estarem sobrecarregados «dificultando a interajuda e a interação entre as comunidades e os seus responsáveis».

«Os padres não têm tempo para ouvir os leigos, para acompanhar espiritualmente, porque eles próprios estão cada vez mais sozinhos, são gestores de paróquias e não de almas, sendo que muitas vezes já nem vivem nas comunidades e com elas».  Urge, pois, cultivar o contacto de proximidade e atitude de abertura, pois observa-se por vezes «pouca ação unificadora do padre, havendo necessidade de sair da ‘concha’, de estar mais atento aos mais débeis, aos afastados e de promover encontros e atividades paroquiais que envolvam diferentes grupos da comunidade, num verdadeiro trabalho em equipa, sem hierarquia e usando uma linguagem atual». 

Por outro lado, assinala-se que as comunidades cristãs e os seus fiéis deverão cultivar ativamente o acompanhamento e cuidado dos párocos: «também nos parece importante que os leigos se sintam responsáveis pelo acompanhamento e cuidado dos seus párocos, com gestos concretos de amizade e gratidão, mas também de ajuda concreta, designadamente correspondendo aos pedidos de colaboração na Missão».

 III – Visão da Igreja atual e propostas de mudança

De um modo geral os participantes consideram que a Igreja está presente ao mundo e procura responder às necessidades humanas e espirituais das comunidades, mas nem sempre com a urgência e a persistência, a empatia e a criatividade que o mundo precisa e o Evangelho nos propõe.

A maioria dos participantes refere que, do ponto de vista da estrutura, a Igreja atual continua a ser demasiado hierárquica, o que a torna inacessível e muito presa às tradições e às “coisas” da Igreja, numa atitude de fechamento, burocrática e legalista, existindo um enorme fosso entre o clero/ hierarquia e o povo de Deus. «Atualmente a autoridade e a governação no seio da nossa Igreja local, são exercidas em pirâmide pelos Párocos e alguns, poucos, leigos. (…) Os ministérios laicais e a responsabilidade dos leigos, não têm sido muito promovidos.» 

A visibilidade e voz dos consagrados, especialmente das consagradas, não é significativa, no entanto são, a maior parte das vezes, as pessoas de confiança dos sacerdotes nos diferentes serviços.

Se a Eucaristia e a liturgia, de um modo geral, se revelam nas sínteses como uma das dimensões mais importante na vida dos cristãos, também se torna evidente que não esgotam a presença da igreja nas comunidades. Constata-se uma falta de iniciativa e de criatividade que se justifica e explica com o ‘sempre foi assim’ ou com a tradição, mas que também se revela no crescente desinteresse e no afastamento de muitos, por não se sentirem atraídos nem identificados com o que a igreja propõe ou faz.

Quase todas as sínteses vicariais referem a inexistência ou o mau funcionamento dos Conselhos Pastorais, órgão reconhecido como fundamental para a vitalidade e transparência da vida da Comunidade.

Em contraposição, a experiência dos leigos, dentro dos movimentos a que pertencem, é de maior sinodalidade do que dentro das estruturas da igreja, nomeadamente nas paróquias. Nos movimentos, os leigos sentem ter mais acesso à formação cristã e uma maior experiência de discussão de assuntos e resolução de problemas e conflitos, de tomada de decisão em conjunto e de rotatividade nos órgãos de governação.

Propostas de mudança e desafios à conversão

NA ATITUDE DA IGREJA:

  • Dar continuidade e aprofundar a dinâmica do processo sinodal nas comunidades;
  • Fazer da Igreja um espaço de escuta e acompanhamento espiritual e humano das comunidades, acolhendo, integrando e valorizando quer os que vêm de fora ou estão afastados, quer aqueles que estão dentro;
  • Abraçar e apreciar a diversidade da Igreja como dom, congregando-a e tornando-a visível;
  • Acolher e promover a participação das mulheres que são a larga maioria dos cristãos;
  • Criar sinergias, ligando e articulando a missão e ação dos movimentos com as paróquias;
  • Promover uma maior transparência nos casos problemáticos no seio da Igreja;
  • Criar uma cultura de serviço e rotatividade no exercício dos cargos desempenhados na comunidade cristã;
  • Recuperar e revitalizar os Conselhos Pastorais nas paróquias;

Revitalizar o Conselho Pastoral Diocesano;

NO LAICADO

  • Investir na formação permanente dos leigos, nomeadamente na área das Sagradas Escrituras, Doutrina Social da Igreja, Liturgia e Sacramentos, em ordem a um crescimento na fé e maior e melhor empenhamento na Igreja.
  • Formação específica para o exercício dos ministérios litúrgicos;
  • Apostar na catequese dos jovens como espaços de crescimento na fé e de experiências significativas. Repensar a catequese para crianças e adultos, investir na criação de instrumentos didáticos e pedagógicos.
  • Utilizar mais os meios digitais para disponibilizar conteúdos e ferramentas que promovam e fortaleçam a vida espiritual e religiosa, em particular dos mais jovens

NO SACERDÓCIO 

  • Repensar a Pastoral Vocacional e investir na formação humana, espiritual e intelectual dos sacerdotes à luz dos desafios e exigências do nosso tempo; 
  • Repensar o celibato como condição para o ministério presbiteral;
  • Incluir mais as mulheres, os ex-sacerdotes, os diáconos permanentes nas diferentes dimensões e serviços pastorais da Igreja local;
  • Criar um Conselho Diaconal, à semelhança do Conselho Presbiteral;

Promover a comunhão e interajuda entre clero e leigos;

  • Acompanhar e cuidar dos párocos;
  • NA VIVÊNCIA DA FÉ – LITURGIA e SACRAMENTOS:

Renovar a linguagem litúrgica; 

  • Criar espaços de abertura que convidem ao silêncio e à reflexão. Espaços de beleza e de ternura;
  • Apostar numa formação contínua de leitores, cantores e acólitos;
  • Criar contextos mistagógicos onde possam ser explicados os ritos e símbolos litúrgicos, tendo em atenção os que desconhecem esta linguagem;
  • Aproveitar as oportunidades – casamentos, batizados, etc. – para oferecer uma palavra com sentido às pessoas em momentos chaves da sua vida;
  • Acolher sempre e não deixar que a burocracia e a lei se tornem obstáculo a esta atitude;

A IGREJA NA RELAÇÃO COM A SOCIEDADE:

  • Acolher as pessoas divorciadas e recasadas, pessoas homossexuais, pessoas a viver em união de facto;
  • Ter um cuidado e preferência particular pelos mais desprotegidos, mais pobres, desempregados;
  • Acompanhar as famílias nas diversas situações de vulnerabilidade;
  • Compreender as motivações do desencantamento com a Igreja por parte daqueles que dela se afastam;
  • Cuidar e fortalecer a visibilidade da vida da Igreja na sociedade;

NOTAS SOLTAS

Por último, em jeito de notas soltas, alguns grandes anseios e preocupações dos participantes no processo sinodal na Diocese de Santarém:

O nosso estilo tem que ser a misericórdia.

Deixarmo-nos tocar pela realidade do outro. 

Termos sempre presente que a realidade é mais importante do que a ideia. 

Sermos peritos na arte do encontro. 

Termos atenção aos “pecadores” do nosso tempo. 

Quem são as “prostitutas e publicanos” do nosso tempo?

Reconhecermos que somos uma Igreja ainda muito instalada, acomodada.

Falta-nos ousadia e audácia para fazermos a vontade de Deus. 

Falta-nos a ousadia da Missão.

Acreditarmos firmemente que o Espírito Santo fala na história e no mundo, 

e em todas as realidades humanas. 

Se escutarmos a Palavra que o Senhor nos dirige em cada dia, 

escutando-nos uns aos outros, escutando o clamor dos nossos contemporâneos 

e procurando responder, avaliando com humildade e liberdade as respostas tentadas

e dispondo-nos a recomeçar sempre este círculo virtuoso, 

seremos uma Igreja mais viva e comprometida com a Missão de Jesus.

Equipa Responsável: Padre Pedro Marques e Maria Carlos Ramos

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