Irmãos e irmãs
Nesta Noite santa de Natal celebramos com alegria o nascimento do Salvador prometido, que é Jesus, o Senhor. É o mistério da vinda de Deus ao mundo que continuaremos a celebrar por estes dias.
Como é bom e agradável escutar de novo a Palavra que atualiza para nós o mistério do Natal: como Deus se tornou próximo e veio habitar connosco.
O refrão do Salmo responsorial é a grande afirmação do Evangelho da Missa da Noite de Natal: “Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor”. É esta verdade que se atualiza e reaviva na alma dos cristãos reunidos em assembleia celebrante.
É sonante o anúncio do profeta Isaías (Is 9,1-6): “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar”. O que é para Isaías “habitar nas sombras da morte”?Certamente, era aquilo que ele via e interpretava na vida do povo do seu tempo em Jerusalém e arredores. É habitar num tempo submetido àcorrupção e exploração humana e sem outro horizonte que não seja a escuridão da morte.
O Profeta anuncia a vinda do Príncipe da Paz e conclui: “Assim o fará o Senhor do Universo”. Isaías está distante do nascimento de Jesus; as suas palavras refletem uma luz interior de fé e uma esperança que só podem ser uma inspiração de Deus.
São Lucas oferece-nos no seu Evangelho (Lc 2,1-14) o contexto histórico e social do Nascimento de Jesus. Eram também tempos difíceis para o povo de Jerusalém e de outras terras de Israel. Ressaltana narrativa do Evangelho a pobreza das condições em que nasceu o Menino. Estamos perante um desígnio; Deus quis assim e é certamente assim que Maria e José o interpretam: importa resolver a situação com fé, dignidade e ternura.
O Evangelho associa a simplicidade do nascimento do Menino à luz que se manifestou aos pastores de Belém. É normalmente assim: os sinais da presença de Deus acontecem com uma luz. O próprio Jesus vai um dia ensinar: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
Entretanto, um outro efeito é anunciado pelos anjos aos pastores: a alegria. “Anuncio-vos uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,10).
Irmãos e irmãs, a beleza e a grandeza da Luz do Natal está na revelação do mistério que celebramos: Deus enviara o seu Espírito em plenitude sobre a Virgem Maria. Agora, o Meninode Maria e de José é a presença de Deus que se pode ver e adorar. E é isto que faz parte do mistério da Fé da Igreja: Deus, na sua divindade, assumiu a natureza humana como morada e como existência visível.
O Menino havia de assumir com humildade a encarnação divina, não vai ser um super-homem, vai assumir a fragilidade humana para a renovar, purificar e conceder a todos a graça do mesmo Espírito Santo que n’Ele residia. É este o nosso tesouro e o nosso segredo.
A Luz do Natal é a mesma da Páscoa. É verdade que a Páscoa é o centro da afirmação da nossa Fé, mas o Profeta Isaías começou por anunciar o Nascimento do Salvador e, desde muito cedo na sua história, os cristãos não se dispensam de celebrar com alegria o Nascimento do seu Salvador.
Na Segunda Leitura de S. Paulo a Tito (2,11-14) o apóstolo refere: “Manifestou-se a graça de Deus(…) para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade” (2,11).
Como Jesus ensinara, somos chamados a ser a sua nova família: “Minha mãe e meus irmãos e irmãs,são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21). Isto é, são aqueles que são mais parecidos com as virtudes da Virgem Maria e São José.
Irmãos e irmãs, demos graças, celebremos com alegria o Nascimento do Salvador, o Deus-connosco, que nos fez membros da sua nova família, que nos desafia a agir em confiança, humildade e coragem e a assumir a missão de ser Luz do mundo e sal da terra.
+ José Traquina