O Papa assinalou neste primeiro de novembro, no Vaticano, a solenidade de Todos os Santos, pedindo que esta sirva de inspiração para novos “construtores de fraternidade”, num mundo em guerra.
“Enquanto antecipamos esta realidade futura, sentimos ainda mais forte e doloroso o contraste com os dramas que a família humana está a sofrer devido às injustiças e às guerras. E sentimos ainda mais urgente o dever de sermos construtores de fraternidade”, disse, na recitação do ângelus, antes da Missa conclusiva do Jubileu do Mundo Educativo, a que presidiu na Praça de São Pedro.
A Igreja Católica celebra anualmente, a 1 de novembro, a solenidade litúrgica de Todos os Santos, feriado nacional em Portugal, na qual lembra conjuntamente “os eleitos que se encontram na glória de Deus”, tenham ou não sido canonizados oficialmente.
Referindo-se a esta solenidade litúrgica, Leão XIV apontou a esperança que brota da comunhão e da santidade: “O mistério da Comunhão dos Santos, que hoje respiramos a plenos pulmões, recorda-nos qual é o destino final da humanidade”.
“É uma grande festa em que nos alegramos juntos pelo amor de Deus presente em todos, reconhecendo e admirando a beleza multiforme dos rostos, todos diferentes e todos semelhantes ao rosto de Cristo”, acrescentou.
O Papa dirigiu uma saudação alargada aos participantes na celebração, sublinhando a alegria comum pela proclamação de São João Henrique Newman como doutor da Igreja.
“Estou muito feliz por receber a delegação oficial da Igreja da Inglaterra, liderada por sua graça Stephen Cottrell, arcebispo de Iorque. Após o histórico encontro de oração com Sua Majestade, o Rei Carlos III, celebrado há alguns dias na Capela Sistina, a vossa presença hoje expressa a alegria partilhada pela proclamação de São João Henrique Newman como doutor da Igreja”, declarou.
O cardeal Newman converteu-se do anglicanismo ao catolicismo, em 1845.
Leão XIV evocou o contributo do novo doutor da Igreja para o caminho ecuménico: “Do céu, ele acompanha o caminho dos cristãos rumo à plena unidade.”
“O Jubileu é uma peregrinação na esperança e todos vós, no vasto campo da educação, sabeis bem o quanto a esperança é uma semente indispensável! Quando penso nas escolas e nas universidades, penso nelas como laboratórios de profecia, onde a esperança é vivida e continuamente narrada e reproposta”, disse, na homilia da Missa da solenidade de Todos os Santos, a que presidiu na Praça de São Pedro.
Perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, Leão XIV deixou um convite aos educadores e às instituições educativas: “Brilhai hoje como astros no mundo”.
“Contemplemos e apontemos constelações que transmitam luz e orientação neste tempo presente obscurecido por tantas injustiças e incertezas. Portanto, encorajo-vos a fazer das escolas, das universidades e de todas as realidades educativas, mesmo informais e de rua, limiares de uma civilização de diálogo e paz”, declarou.
O Papa apresentou as Bem-aventuranças como referência pedagógica, considerando que trazem consigo uma nova interpretação da realidade.
“São o ensinamento por excelência. Da mesma forma, o Senhor Jesus não é um entre tantos mestres, é o Mestre por excelência. Mais ainda, é o Educador por excelência”, indicou.
A intervenção destacou a importância de que escolas e universidades católicas possam ser “lugares da escuta e da prática do Evangelho”, apelando à valorização dos mais desfavorecidos.
No início da Missa, o Papa proclamou São João Henrique Newman (1801-1890), cardeal inglês convertido do anglicanismo, como 38.º doutor da Igreja, num gesto simbólico para o Jubileu do Mundo Educativo.
Leão XIV citou um dos textos mais conhecidos do cardeal Newman, o hino ‘Lead, kindly light’ (Luz terna, suave, leva-me mais longe).
“É tarefa da educação oferecer esta luz terna àqueles que, de outra forma, poderiam permanecer aprisionados pelas particularmente insidiosas sombras do pessimismo e do medo”, sustentou o pontífice.
“Por isso, gostaria de vos dizer: desarmemos as falsas razões da resignação e da impotência e façamos circular no mundo contemporâneo as grandes razões da esperança”, acrescentou, falando aos participantes na celebração.
O Papa assumiu “grande alegria” por inscrever São João Henrique Newman entre os Doutores da Igreja e, ao mesmo tempo, nomeá-lo copadroeiro, com São Tomás de Aquino, de “todos os agentes que participam no processo educativo”.
“A vida ilumina-se não porque somos ricos, bonitos ou poderosos. Ela ilumina-se quando uma pessoa descobre dentro de si esta verdade: sou chamado por Deus, tenho uma vocação, tenho uma missão”, observou.
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