A celebração, presidida por D. José Traquina, está agendada para o próximo domingo 21 de setembro, pelas 16h na Sé de Santarém.
Nesta edição do jornal diocesano Porta do Sol, poderá ler o testemunho dos dois futuros diáconos da nossa Diocese, João Neves e João Diogo.
Partilhamos aqui na íntegra, o testemunho de João Maria Diogo.
Aproximando-se a data da Ordenação Diaconal, aproveito a ocasião para vos contar um pouco do meu percurso de vida. Nasci em Vale de Prazeres, uma aldeia da Beira Baixa no concelho do Fundão, onde cresci no seio de uma família católica. Fui batizado aos nove dias de vida, porque os meus pais tinham pressa para me tornar filho de Deus.
Aos vinte anos mudei-me para Coimbra onde estudei química e trabalhei como Bibliotecário na Universidade de Coimbra.
A Igreja esteve sempre presente, quer no percurso formativo na catequese, quer na dinamização de grupos de jovens. Fiz o meu convívio fraterno aos quinze anos, quase no início do movimento ainda com a equipa fundadora do movimento.
Em dezembro de 1991, casei na Catedral de Santarém e passei a residir em Santarém. Com a minha mulher, oriunda ela também de uma família católica, procuramos desde logo integramos-mos na comunidade católica da cidade. Por uma questão de proximidade, a comunidade do Jardim de Cima foi a escolhida para vivermos a nossa Fé.
Os nossos filhos nasceram e foi também aí que foram crescendo na Fé, muito auxiliados pelo nosso pároco e pelos Missionários que foram passando pelas nossas vidas e pela nossa casa.
Durante cerca de 10 anos integramos, eu e a minha mulher, a equipa de animação missionária, visitámos dezenas de paróquias da Diocese de Santarém e do Patriarcado de Lisboa onde através de encontros missionários anunciávamos o Evangelho. Foram sempre encontros marcantes e cheios de humanidade.
Esta experiência permitiu um amadurecimento na Fé e sobretudo dar rostos ao Evangelho, nos irmãos com quem nos fomos cruzando, especialmente na simplicidade do encontro e da escuta.
Em termos profissionais, depois de um longo período a trabalhar em Coimbra e Lisboa vim para Santarém onde exerço as funções de Tesoureiro na Administração Pública.
Quanto à caminhada eclesial, ela foi longa, mas sempre próxima da Igreja Local colaborando nas missões que Deus me foi pedindo, na última década e meia mais ligado ao apoio dos mais frágeis e excluídos. Na liturgia, o grupo de leitores e dos ministros extraordinários da comunhão tem sido a área de serviço. O acompanhamento na preparação de adultos para o Batismo e para o Crisma tem sido também uma constante no meu caminho de cristão.
As missões e a importância de contribuir para o desenvolvimento de uma atitude de discípulos missionários – nos cristãos em geral e da nossa diocese em particular – tem sido para mim também uma preocupação constante bem como para todos os que comigo integram o Secretariado Diocesano de Ação Missionária.
O chamamento ao diaconado foi uma surpresa total e inesperada que durante alguns dias me deixou sem saber que resposta dar ao Senhor.
Nunca tinha pensado ou colocado sequer a hipótese de poder servir o Senhor desta forma, com todas as responsabilidades que tal decisão acarretava. Pensava que era algo que eu não necessitava pois já era grande o meu empenhamento na Igreja.
Foram dias de discernimento, em que a minha família teve o papel principal e, como é hábito, deixaram-me sozinho na decisão final, mas, como só eles sabem fazer, ajudaram e muito na decisão de aceitar este desafio. Oposição nenhuma, mas total liberdade na decisão.
Mês e meio foi o tempo que demorei a comunicar o Sim, apesar de no meu interior esse sim ter sido dado mais cedo.
Segue-se um ano com a equipa formativa em Santarém, para perceber melhor a missão que me era pedida, em que o nosso Bispo teve um papel determinante na decisão de continuar a formação no Seminário dos Olivais durante três anos.
Este foi um tempo muito especial em que, com os candidatos da Diocese de Lisboa, formámos uma equipa muito unida e coesa em que a ajuda, a partilha e a oração em conjunto nos fortaleceram e nos foram dando uma consciência mais plena daquilo que Deus nos pedia. E era simplesmente que, com todos os nossos defeitos e virtudes, cada um fosse instrumento de Deus para ser sal da terra e luz do mundo.
Foram anos exigentes e intensos de aprofundamento do conhecimento de Deus e da Igreja, em que tantas e tantas respostas foram dadas, dúvidas e temores foram esclarecidos. Mesmo as que ficaram sem resposta aprendemos a esperar por elas no tempo de Deus, aprendemos a confiar.
A partilha de vida e de situações vividas nas nossas paróquias e na vida de cada um de nós são ferramentas que auxiliam nos inesperados da vida.
Juntos fomos redescobrindo, de uma forma mais profunda, um Deus que é Amor e que nos ama profundamente. Ter essa consciência de que somos únicos e que somos amados por Deus é a experiência de Fé mais marcante do nosso encontro com Deus.
Pessoalmente, tenho na minha mente, de uma forma inesquecível e marcante, esse encontro com Deus, o dia em que me senti profundamente amado por Ele. Foi há muitos anos quando queria respostas que só Ele me podia dar, mas obviamente não era o momento de as ver respondidas. Mas foi o tempo da presença.
Sentir a presença próxima de Deus é arrepiante, foi o que aconteceu nesse momento e a partir daí só passou a haver lugar para agradecimento e para confiar em Deus.
Os momentos arrepiantes foram acontecendo tantas e tantas vezes na nossa vida em que eu e a minha mulher nunca mais nos sentimos sós. Temos a certeza de queDeus está sempre connosco, nem sempre o compreendemos, mas aceitamos com confiança aquilo que a Ele nos vai reservando. O tempo acaba sempre por Lhe dar razão.
Chegados aqui, vejo-me como um diácono que quer servir a Igreja e os irmãos, de uma forma simples, ajudando a trazer felicidade a todos aqueles com que me for cruzando, minimizando sempre que possível os sofrimentos, tornado felizes os momentos importantes em que somos chamados a participar e a intervir, confortando quando possível os irmãos nos momentos mais frágeis.
Parece simples e fácil, mas nem sempre é assim. Os desafios são muitos.
Como diácono, como escreveu o Papa Francisco, sou retirado da sociedade para nela voltar a ser inserido. No mundo do trabalho, ao sermos olhados pelos colegas como iguais e diferentes, temos a responsabilidade acrescida de ser os braços e os pés de Deus, de sermos o rosto próximo da Igreja.
Numa Igreja que quer incluir todos e numa diocese com tantas carências de pastores, encaro com humildade o contributo que possa dar para o crescimento e o fortalecimento desta nossa igreja local de Santarém, assim Deus me ajude.
Fotografia: João Maria Diogo com a família