O movimento voluntário “Eu sou Matriz”, que se destina à angariação de fundos para os trabalhos de reabilitação da Igreja Matriz de Alcanede, conheceu nos dias 8 e 10 de dezembro mais um valioso contributo, com o lançamento do livro “Crónica da Igreja de Alcanede” em Alcanede e na Sé de Santarém, respetivamente.
Da autoria do investigador alcanedense Luís Duarte Melo, a edição do livro contou ainda com os preciosos apoios da Família Montez e da Junta de Freguesia de Alcanede, revertendo as receitas da sua venda integralmente para as obras de reabilitação da Igreja Matriz.
Nas palavras do autor na génese desta obra esteve a ideia de “inventariar e valorizar o património artístico-religioso da Freguesia de Alcanede”, acrescentando que “da igreja, na sua aceção de edifício, a investigação alargou-se ao seu significado mais amplo de conjunto de moradores de uma circunscrição territorial” realçando a centralidade dos edifícios religiosos (igreja matriz e capelas dos lugares) como agregadores históricos das respetivas comunidades. Dividido em seis partes, o livro percorre os mais de 800 anos da Igreja de Alcanede, desvendando episódios históricos relevantes em que Alcanede esteve envolvida, a dimensão social e cultural do território do distrito da sua Matriz em diferentes épocas, questões sensíveis referentes ao exercício dos poderes eclesiásticos e administrativos, as rivalidades entre gentes e locais, dá enfoque a protagonistas locais que se notabilizaram nos diferentes domínios temporais e espirituais, enfim, o autor convida-nos a “degustar” o resultado da sua extensa e profunda investigação com o tempo e a atenção que a mesma requer e merece.
Na sessão do dia 8 de dezembro, a apresentação do livro foi o mote para um interessante debate sobre Alcanede, o seu património histórico (material e imaterial), a comunidade religiosa e os efeitos da pandemia na sua relação com a vivência coletiva, os relevantes achados arqueológicos na necrópole existente nas fundações da Matriz, a reabilitação do Castelo e sua disponibilização a visitas turísticas e pedagógicas, o papel das novas gerações na dinamização cultural e turística da região e os claros apoios manifestados pelos autarcas presentes (Junta de Freguesia e Câmara Municipal) para o aprofundamento da agenda cultural e para que o património de Alcanede possa aqui ser reabilitado, valorizado e divulgado, reforçando a identidade e a coesão social deste território.
No dia 10 de dezembro, a “Crónica da Igreja de Alcanede” foi apresentada na Sé Catedral de Santarém, com relevantes alocuções: D. José Traquina, Bispo de Santarém, Antónia Amaral, arqueóloga e diretora do Castelo de São Jorge em Lisboa, Luís Duarte Melo, autor do livro; João Teixeira Leite, vice-presidente da Câmara Municipal de Santarém. Terminando com um magnífico concerto pela Banda da Sociedade Filarmónica de Alcanede, outra instituição centenária desta Vila, que muito tem integrado e valorizado a sua juventude e divulgado a sua excelente cultura musical no país e no estrangeiro. A nossa Banda acompanhou no dia, a esplendorosa atuação da soprano Sofia Pinto.
Citando o Pe António Vieira, que escolheu Alcanede para se inspirar em alguns momentos da sua vida, o livro termina com esta reflexão “(…) o filho do tempo, reparte com o mesmo a sua ciência ou a sua ignorância; do presente sabe pouco, do passado menos e do futuro nada.”
Clara Albino