
Santarém, 17 de abril de 2025
Irmãos e irmãs
Esta Missa crismal acontece em Ano do Cinquentenário da criação da nossa Diocese e do Jubileu 2025. É um ano especial para celebrar, agradecer e acolher os dons de Deus para a nossa renovação cristã e de toda a Igreja.
Saúdo o Senhor D. Manuel Pelino, nosso Bispo emérito, os Padres (que hoje renovam os seus compromissos), Diáconos, Irmãs de vida consagrada, seminaristas, acólitos, todos os irmãos e imãs em Cristo. A todos saúdo partilhando breve meditação especialmente pensada para os sacerdotes.
Caros Padres, antes das celebrações do Tríduo Pascal, ensina a Igreja, devemos promover a Missa Crismal que o Bispo concelebra com o seu presbitério, dentro da qual consagra o santo crisma e benze os santos óleos; é como que a manifestação da comunhão dos presbíteros com o seu Bispo.
Deste modo se manifesta claramente a unidade do sacerdócio e do sacrifício de Cristo continuado na Igreja, pondo em relevo a unidade eclesial e a origem pascal de todos os sacramentos. Aqui estamos para corresponder.
O Espírito Santo está na origem de Jesus emanifestou-se no seu Batismo no rio Jordão. Na sinagoga de Nazaré, lendo o versículo do profeta Isaías, “O Espírito Santo está sobre mim”, Jesus declara que é n’Ele que se cumpre esta palavra profética. É também no Espírito Santo que a Igreja nascente havia de encontrar a comunhão, a força e a alegria da missão.
O Espírito Santo é o grande protagonista do projeto de Deus, assegura a existência e a missão da Igreja, esteve presente no Pentecostes a assegurar a unidade e a coragem dos membros da comunidade de Jerusalém, esteve presente na Ordenação de cada um de nós e está connosco sempre que o não rejeitamos. É o Espírito Santo que dá a vida de Deus e enche o coração dos seus fiéis. É n’Ele que somos capazes de superar as nossas fragilidades e frustrações. Para isso é indispensável a oração e a disponibilidade interior.
Caros Padres não existem missões perfeitas à nossa espera; para onde somos enviados há sempre muita coisa a aperfeiçoar e a crescer. Porém, inerente ao Espírito Santo que nos assiste, há uma graça que não podemos dispensar de cultivar e transmitir: a alegria e a esperança. A alegria do Evangelho, a alegria de Maria, a Virgem Mãe, a alegria dos pastores de Belém, a alegria da primeira comunidade cristã em Jerusalém, a alegria da Fé.
Neste Distrito de Santarém onde se regista número elevado de denúncias de violência entre pessoas, num tempo em que não se vislumbra a estabilidade mundial com os conflitos e guerras, militares e comerciais, faz sentido falar de alegria e esperança? Faz sentido e é necessário. As intervenções de Deus como a vinda de Jesus ao mundo, o Pentecostes no início à Igreja e força concedida em tempos de perseguição, tudo nos diz que Deus não esperou que houvesse um tempo fácil, pacífico em que todos estivessem disponíveis para renovar o mundo que criou. Jesus viveu em tempos difíceis, complicados e não escondeu aos seus discípulos as dificuldades que iriam encontrar quando os enviou em missão. A qualquer membro da Igreja que assuma parte na sua missão é indispensável comunicar com alegria. A alegria e a esperança são uma graça enorme na vida cristã.
Não confundamos alegria com orgulho pelo que somos, pelos prazeres ou por aquilo que se tem ou obtém. Falamos da alegria, fruto do Espírito, que atua na profundidade e se revela na bondade, nas atitudes e no nosso rosto; alegria pela nossa vocação e por aquilo que conseguimos promover na vida das pessoas e das comunidades. A alegria que se traduz pelo entusiasmo no exercício do ministério, crentes, confiantes e conscientes de que nós atuamos mas é Deus quem pode renovar a vida das pessoas.
Com tudo isto, porém, ninguém está dispensado de vigilância: a falta de alegria no exercício do ministério pode levar-nos a opções inaceitáveis, a compras e à posse de bens materiais que podem corresponder a subterfúgios para preencher o vazio ou ausência da alegria do Evangelho. Se me falta a alegria, devo procurar ajuda para a retomar, além disso, preciso não esquecer que o Demónio tudo faz para perturbar os padres na sua missão, alegria e fidelidade.
Caros Padres, desejo salientar duas publicações recentes do Magistério da Igreja que têm a ver com a nossa alegria e missão.
1-A Carta Encíclica Dilexit Nos, do Papa Francisco, sobre o Amor humano e divino de Jesus, é um texto que nos leva à espiritualidade do Coração de Jesus e nos ajuda a rever a nossa compreensão da pessoa humana à luz do Evangelho.
O Papa Francisco lembra que “na sociedade atual, o ser humano corre o perigo de se desorientar do centro de si mesmo. O homem contemporâneo encontra-se com frequência transtornado, dividido, quase privado de um princípio interior que crie unidade e harmonia no seu ser e no seu agir” (DN 9).
Exorta o Papa Francisco a valorizar a dimensão do coração como o centro de unidade e da harmonia de uma pessoa, considerando que “o mundo pode mudar a partir do coração”, e convidando-nos a “recorrer ao Coração de Cristo” (DN 32). “porque é o princípio unificador da realidade, porque Cristo é o coração do mundo” (DN 33). Fica esta referência a um texto que nos remete para a saudável espiritualidade do Coração de Cristo, Coração que é também Eucaristia e “encontro onde nos tornamos capazes de nos relacionarmos uns com os outros de forma saudável e feliz”.
2-O Documento Final do Sínodo dos Bispos é a outra publicação que quero referenciar. Énecessário continuar a cuidar da receção desse Documento e implementar a indicações que apresenta. O que desejo sublinhar é a prévia dimensão espiritual “A sinodalidade é, antes de mais, uma disposição espiritual que permeia a vida quotidiana dos batizados e todos os aspetos da missão da Igreja. Uma espiritualidade sinodal nasce da ação do Espírito Santo e requer a escuta da Palavra de Deus, a contemplação, o silêncio e a conversão do coração” (nº 43).
Caros Padres em sintonia do Amor do Coração de Cristo e com a unção e do mesmo Espírito Santo podemos crescer no testemunho,como presbitério, e ajudar os outros cristãos da Diocese a fortalecerem-se na alegria do Evangelho e na missão da vida.
A renovação das promessas sacerdotais e o rito da Bênção dos Óleos e Consagração do Crisma são sinais que se justificam para a celebração da Páscoa e para missão que temos pela frente. A Virgem Maria, Nossa Senhora da Conceição nossa Padroeira, nos acompanhe como acompanhou os primeiros discípulos no início da Igreja.
+ José Traquina